"... Nunca sofra por não ser uma coisa ou por sê-la..." (Perto do Coração Selvagem - p.55)


“Não sei... Perdi-te, e és hoje
Real no [...] real...
Como a hora que foge,
Foges e tudo é igual
A si-próprio e é tão triste
O que vejo que existe.



Acho que eu estou com um, dois, três lados a mais do normal, ou do que eu esperaria de mim mesma. É como ter espelhos voltados e a cada vez que eu olho tenho uma imagem refletida totalmente diferente do que pensava que era. Eu não sei quantos lados meu rosto tem, e quando foi que eu mudei, e mudo. Apenas me apetece o estranhamento de não compreender. Talvez por não entender bem o que se passa aqui dentro, com a alma impaciente e vendo apenas o reflexo, só me restam as explicações.

O que importa as explicações?

Eu só sei que passei do limite, do meu limite de entendimento pessoal, e de fato ando tão estranha de mim. Penso que só não me expulso de mim porque não dá pra fazer isso. Mas convenhamos que a minha chatice por ser colossal (deveras abundante – até nisso eu sou irritante) fico um tanto atenta pra o que se passa, pra minha mente perturbada, pra meus anseios e as minhas impulsividades (que são tantas atualmente). São tantas sensações, tantos mundos, tantos segundos enlouquecidos em que me perco em outros, nos décimos, e na própria palavra. E me busco num sonho real, mas quando vejo já é realidade por um pedido nada convencional, e haja disposição pra resolver metade dessa loucura, afinal quando eu mantinha tudo no pensamento era bem mais simples, o problema é que ando fazendo do meu mundo imaginário a realidade. Consequentemente, quando começa em mim, mas termina em outros, a extensão é magnífica e incontrolável, e pobre de mim, fico a mercê da sequência dos envolvidos, e assisto a mim como um enredo de filme antigo, diferente, lento, um tanto quanto só, mas ainda assim leve.

Se me encontrares por aí, com o pensamento perdido, leia minhas oscilações. Folheie meus vãos movimentos. Não tente saber a sequência, mas conheça o fim, e esqueça que é parte disso, porque é isso mesmo, eu sou um devaneio passageiro pra qualquer um que se aproxime. E quando julgar saber dos meus passos, não o saberá de fato, mas durante a contradança das nossas reticências vamos fingir que acreditamos no seu saber, eu e você, você e eu. Que inicie com um pouco de musica e alguma fúria inexplicável entre nossos olhares presos, mas entre as poucas inconsistências, das manias, das sutilezas, leia-me por pedaços, julga-me por completo em meios termos profundos demais e ao mesmo tempo rasos. Perca-se em mim durante o mergulho nas palavras, porque bem sei do meu passado, e sei que não sou tão simples como antes, mas com certeza sou complexa até pra mim. Eu sou incompreensível e sei bem disso. Por isso desando a escrever. E ainda assim não me compreendo. É que há na simplicidade das palavras uma dificuldade de calar meu silêncio, mas o fato de estar desencontrado de mim, é como combustão. Queimando. Fervendo. Escondido.

Talvez amanhã - quem sabe?! – eu me ignore completamente e mais calma consiga entender essa volúpia momentânea. E assim eu possa mudar o meu não querer. Ou será que eu quero e ignoro? Não sei. E cá estou eu confessando o quanto estou estranha. A minha alma parece ter feito uma reforma, está mais direta, e mais impaciente. E nada sei de mim, apenas sei dos olhares que me tomam, das pessoas que me envolvem, sei apenas através de suposições que gritam que sou apenas outra pessoa, e essa pessoa é confusa, e nisso temos algo em comum. Permaneço, então, apontando meus próprios defeitos, como se me traísse, mas ainda assim achando que é o melhor. Talvez porque eu não seja assim tão eu, mas seja um pouco dos outros, ou talvez eu seja múltiplas repetições diferenciadas. Ou eu posso me considerar uma realidade não continuada, uma vida que vive, em mim, mas que não sou eu, ou sou e não me sinto ser. Possa eu somente ser parte incompleta procurando completar-se de vazios. 

“E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha".

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