Os olhos
‘Como fui parar aqui? O que se passa? Você? Oh meu Deus?!’ Era tudo o que eu pensava. Eu poderia ter gritado. Eu poderia ter lutado. Mas nada fiz. Eu só fiquei ali, e deixei acontecer, observando tudo isso se depositar sobre mim. Feito poeira. E por quê? Pra que? De nada adiantou. Eu olhei para aqueles olhos que falavam intensamente, gritavam. Deixavam-se transparecer. Amarelos, doentios. Quase mortos. E, de perto, brilhavam com cada tom de dourado e caramelo. Sedentos. Eu não queria que ele desviasse o olhar por um momento se quer, e ele não o fez. Tentei me esticar e o tocar, mas minhas mãos ficaram colocadas contra meu peito, meus braços congelados em meu corpo. Eu não sentia mais o corpo mexer. Eu não conseguia me lembrar dos movimentos. Só sentia aqueles olhos. Então ele se foi. E eu fiquei sem aqueles olhos. Aqueles olhos que me conheciam tão bem. Sem ele, todos os outros se aproximaram. Tomaram a distância como ponto equivocado. E se aproximaram. Sensação sufocante. A