"Amar dói tanto que não dói mais, como toda dor que de tão insuportável produz anestesia própria..."

"Aquele abraço era o lado bom da vida, mas para valorizá-lo eu 
precisava viver. E que irônico: pra viver eu precisava perdê- 
lo..."


Eu, que me recuso, e fujo dos teus olhos, findo tão assim, sem poder reagir. Pensei até em desdizer-se, desculpar com palavras, mas a raiva tomou conta de meu coração pequeno. Preferi deixar metade assim, ocupado de ausência, oculto nas minhas eternas reticências. Sem vaidade alguma pra adoçar, sem açúcar ou mel.

Culpei-te, culpei-me, em todos os versos, cada verso sendo mero coadjuvante. Mesmo que sua presença me gastasse a razão, e por algum desgosto amargo como domingo meu gesto sempre se [des]fazia [im]presente. Com todo cuidado pra não pesar, pra não sustar o dia todo amarrotando a alma, pra não ficar assim tão sem jeito, feito nó desfeito em barbante velho, fui direto pra depois de depois da quinta feira. Enlacei com o olhar que a custo previa os movimentos de algo que parecia um dia bonito, que não pareceu passar, mas passara com alguém que eu já nem sabia se fazia sentido perdoar. Sem que eu nada conseguisse fazer. Confusa. [Des]Concertada.

Sem concerto. Eu pouco sei de mim. Mas no meu silêncio, tua face encaixa no meu delírio. Eu juro que sim, é a minha incoerência quem se ri de mim, ouvindo sua voz mais mansa. Menos pesada. Paz de verdade seria se soubesse pedir perdão. Ainda assim, talvez, eu dissesse que sim. A mim. Pra perdoar tuas palavras [des]necessárias. Porque amar é muito profundo, amar recusa razão. Ou você ama, ou não. Ou você perde a razão, ou se perde de si. Quanto a mim, meu bem, sempre busquei o amor, mas faltou o sentido em comum, e então a razão tomou conta da história. E tudo aquilo se desfez. O hoje, amanhã e depois de depois do sim. Sem fim. Simplesmente o fim.

Queixo-me de nenhuma vaidade poder impetrar, mas atormentada a ver, tamanho o desnorteio. Despedi-me. Sim. Eu calo aqui, mas sentir vai bem mais além de toda a incoerência que há em mim, e gaba-se da senil empáfia que prefere ultrajar. Ouvindo metade sofrer, metade amar. No entanto, ama sim. A mim. Ainda. Hoje, amanhã e depois do depois. No fim. Sem fim.

A verdade é que eu queria me retratar, e não pressagiar a negligência, e todo o desconcerto de que a efígie veio a revelar de ambos os lados, dispensou palavras, previu o isolar-se.  Mas meu pensamento grita quão tolo é desistir, porém mais prudente é não errar porque coração não foi feito pra quebrar. E mesmo assim deixo aceita a condição de segundas intensões. Enquanto o acaso fala no meu ouvido que sentir não precisa de razão, e minha razão pede calma, que está cansada de tanta solidão. A dois. Não, um só. E só.


“O fim do amor é ainda mais triste do que o nosso fim. 
Meu amor está cansado, surrado, ele quer me deixar para renascer depois, lindo e puro,  em outro canto, mas eu não quero outro canto, eu quero insistir no nosso canto.”

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