"Você não pode exigir a resposta certa se fizer a pergunta errada."

“MAS COMO FAZER O CÉU? Nem começar podia! Não queria nuvens
— o que poderia obter, pelo menos grosseiramente — mas o céu, o céu
mesmo, com sua existência, cor solta, ausência de cor. Ela descobriu que
precisava usar uma matéria mais leve que não pudesse sequer ser
apalpada, sentida, talvez apenas vista, quem sabe!”

A chegada no Cornells lotado foi tão complicada que levaram 40 minutos pra achar um lugarzinho. Marta já estava no Balcão. Um trio tocava um Jazz.

- Mas olha quem já tá aqui, só não entendi essa solidão no balcão do pub? – Perguntou a Victoria para a Marta.
- Epa amiga, pera lá né? Também não esculacha desse tanto. – Deu um beijo na amiga.
- Mas que aconteceu? O Thales não quis vir? – Perguntou a Ana e deu um beijo na amiga.
- Pra falar bem a verdade, ele não quis vir. De acordo com a teoria dele, nós falamos de coisas fúteis e banais. Vai vendo! – Falou irritada.
- Eiiita, coisas fúteis? Somos moças de papo bobo? É isso mesmo produção? – a Martha falou alto e gesticulando as mãos para cima.
- Uai! Mas o que nós falamos de tão fútil? Alias, que danado ele faz em casa que é tão edificante assim? – Indagou a Ana.
- Ah vai saber?! No mínimo ele vai pegar o Playstation e jogar a noite toda, enquanto come pizza, coca cola, chocolate e batata frita. Jogar algo no PC e depois vai dormir. – Disse a Victoria em tom desanimado.
- Bemmm típico. – Martha falou e riu gostosamente da situação. – Não querendo dizer nada e dizendo.
- Pior né? Homem é tudo igual mesmo, só muda o endereço da sogra! – Ana ficou lá arrazoando sobre a filosofia do mundo masculino e suas teses.
- Calma né? – Falou a Ana. – Erradas estaríamos nós se fizéssemos o mesmo!
- Pera cara, vamos esquecer essa coisa aê toda. Que a gente vai tomar hoje mesmo? – Gritou a Victoria sempre muito expansiva.
- Tequila, whisky, vodka ou as três?
- Duplica isso! Duplica!
- Porque? – Perguntou Ana sem entender.
- Simples, dose dupla cura o dobro de feridas. Né? Sal e limão cura resfriado. Não, pera? – Riu gostosamente e maleficamente pra cara da Ana.
- Opa já topei! – Martha levantou as mãos.
- Euuuu também!! – Disse Ana.

O som rolando, All of me tomou conta do ar do ambiente. O olhar da Ana se desprendeu no ar, completamente disperso. Em meio a tudo isso, a Victoria olha pro palco, olha pra amiga com o olhar disperso, sorri e comanta:
- Eii, volta pra terra, que tem uma coisa que você precisa ver também.
- Ahn? O que já? – Perguntou a Ana ainda com o olhar perdido.
- Olha pro palco! – Gritou a Victoria apontando pro piano e o pianista.
- Mas porque ... – Olhou antes de terminar a pergunta pro palco.

O olhar da Ana fixou nas mãos que tocavam a musica, na voz que entonava cada palavra da canção. Os olhares foram trocados, Mario cantou a canção consumindo cada parte do olhar dela. Não havia certeza alguma, apenas havia dois olhares conversando.

“Porque tudo de mim
Ama tudo em você
Amo suas curvas e todas as suas arestas
Todas as suas imperfeições perfeitas
Dê o seu melhor para mim
Vou dar tudo de mim para você
Você é o meu fim e meu começo
Mesmo quando eu perder, estarei ganhando
Porque eu te darei tudo, tudo de mim
E você me dá tudo, tudo de você”

Ao fim, ele levantou do piano, desceu do palco. Andou lentamente até a Ana. Ela olhou pro chão, ele tocou o queixo com o dedo indicador, elevando o olhar dela ao dele. Sorriu gentilmente. Na mente da Ana tantas coisas passaram e repassaram. Os pensamentos entrecruzavam. Então, uma mão tocou o ombro do Mario, e falou:
- Bora cara, tá na hora! Depois vocês conversam! – Falou o Edgar.
Pegou um papel um guardanapo, anotou o número e deixou nas mãos dela.
- Me liga! – Disse olhando ainda seriamente pra ela. – Vamos sim Ed. Você pegou os cabos dos instrumentos todos? ... – Perguntou ao amigo e saíram pra tocar no outro palco.

Ana chegou em casa, deitou na cama com os pés caídos no tapete. Pegou o papel que estava dentro da bolsa. Olhou os números, o nome. Guardou novamente.

O telefone começa a tocar, no display um número diferente. Ela reconhece o número, pega o papel da bolsa e olha atentamente. Era ele ligando. E como será que ele havia conseguido? Antes de ter qualquer reação o telefone parou de tocar, e Ana estava em choque. Uma sms chegou logo em seguida.

“Oi,
Acho que você deve estar dormindo,
mas só queria te convidar pra tomar um café comigo de manhã.
Na cafeteria perto da fábrica.
Estarei te esperando amanhã as 7:30.
Dorme bem.
Boa noite.
Ed.”

Sorriu delicadamente ao ler a mensagem. Colocou pra despertar e adormeceu.
Pela manhã acordou, tomou aquele banho, olhou todo o guarda roupa pra escolher. Saiu quinze minutos mais cedo. Caminhou até a prateleira de livros, pegou um e fez o pedido do café.

O Mario chegou na hora marcada, avistou ela. Deu um sorriso e foi até ela.
- Oi. Será que a moça poderia me deixar tomar café ao lado? – Sorriu enquanto falava.
- Olá. Só se o moço fizer companhia. – Respondeu sorrindo de canto de boca.

Ele pediu um lanche, e sentou ao lado da Ana.
- Desculpa por ontem, é que a gente ainda tinha que tocar no Cassing’sBar. Nem deu tempo de falar direito contigo.
- Eu percebi que vocês estavam ocupados. – Respondeu.
- Bom, antes que me pergunte como eu consegui seu número, você sabe que tem toda uma estratégia por trás, né? – Riu.
- Ahhh e tem? Quer dizer que foi tudo maquiavelicamente elaborado pra me pegar na surpresa?
- Na realidade era pra você ter me ligado e não desconfiar que eu tinha pedido o seu número pra Vic. Mas você nem mandou nada, aí não aguentei.
- Uia aquela bandida, nem pra avisar nada. – Falou em tom de ironia.
- Ué, não podia? – Perguntou confuso.
- Devia! – Sorriu inclinando a cabeça.


Os dois continuaram conversando por algumas horas a fio. 

Sou a mulher da sua vida, disfarçada de sua melhor amiga.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

I'm miss your touch - Emily Browning

A vergonha

Indignada...