"Eu poderia ter corrido para sempre, mas quão longe eu teria chegado sem chorar o seu amor?"
"Você é minha queda, você é minha musa, minha pior
distração, meu ritmo e minha melodia"
Se houvera sido
verdade, já não sabia. Haver ou não sentimento dependia apenas das palavras do
outro. Às vezes acreditava, por tudo aquilo despertar uma tristeza gigantesca,
um olhar insatisfeito das palavras negativas que transbordavam daquela boca que
antes dizia palavras de amor. Insatisfeita, guardou nas entranhas todas as
palavras malevolamente dissipadas contra a alma; calma, por saber que de dor, a
dor que se dói, é bem maior em quem machuca. Assim, quando fora considerada um
monstro, por acreditarem que havia fingido sentimento, fazia inconscientemente
o ato de não ouvir, pela inconsistência daquilo que era proferido. Repetindo
infinitamente “palavras amargas são como chocolate amargo, apresentam um sabor
que poucos podem compreender e gostar”. E então mentalizava que em algum
momento aquele turbilhão de raiva iria passar, e o ódio proferido em palavras
negativas iriam ser modificadas. A chave da calma era a compreensão, mas de uma
coisa sabia, algo havia escapado no meio disso tudo. A única coisa que
permanecia era a paz de espírito. Era assim, que tentando recriar-se, movia
dentro de si um milhão de pensamentos que rearranjava toda a impressão
automática que tinha de si, e de quem lhe ofendera tão brutamente. Olhou para
frente com o mesmo jeito de sempre, sorriu suprimindo as lágrimas, e pensou
“como vai ser daqui em diante, se a mudança me machuca bem mais por não haver
controle algum?”. Então seguiu seus hábitos automáticos, repetindo alguns
poucos velhos hábitos da obrigação, quase por submissão, por concordar dessa
necessidade.
Às vezes, por momentos,
a cabeça reproduzia fagulhas de pensamentos que voltavam e repetiam, e doía
outra vez. Reproduzia as frases que a custo tentava acreditar. Não para
acreditar, afinal mesmo que repetisse aquilo tantas e tantas vezes, aquilo que
era verdadeiro na alma não mudaria com o passar dos anos. Mas pra apoderar-se
da vontade de seguir em frente, sem fraquejar tão profundamente, e pela
distração dos olhares alheios, permanecia a repetir os movimentos, as mesmas
frases, pra que ao menos o mundo ao redor acreditasse naquela farsa de não
sentir vontade de voltar atrás. Com os olhos vermelhos de segurar as lágrimas,
a princípio da miopia interna, a falta de atenção pro repetidamente continuado
parecia preguiça, parecia falta de vontade ... Lhe diziam “isso é falta de
disciplina”.
Ao fundo do poço sabia
bem, em algum momento essa instabilidade pessoal será transferida, talvez seja
mais consciente e dormente. Quando finalmente tomasse conta do todo, talvez os
passos fossem mais longos, menos dolorosos. Firmes! E assim não julguem tanto,
e a perplexidade da dor exposta tornar-se menos comum. E o amor, escondido ao
fado da alma fosse aos poucos esquecido. Tornar-se-á meio passo interno. E
confesso ao mundo sem o mundo o reprimir. Reclamar. Sem doer.
O mais comprido
sentimento é que não dependia tanto daquilo que queria, mas do tempo, se quando
sentiu pela primeira vez que não havia mais remédio, e sim, era amor, ao
franzir a testa numa tentativa de fugir fracassada, adivinhando a futura
desilusão, aceitou o destino. E por mais incrível que parecesse, era essa dor
que o fazia ser quem era. Amar daquela forma o tornava outra pessoa. Havia
deixado de ser um outro ser humano, pra se tornar talvez aquilo que o
denominavam ... “monstro”. Mas o que havia de fazer se a instabilidade dos
outros o faziam desenhar-se preto e branco? Quando na verdade o ar de certo
e errado já não fazia parte do
vocabulário. Mas era assim mesmo, pateticamente revolucionário, um sentimento
que rasgava tudo por dentro, que era bobo, mas infinitamente inspirador.
Bem aventurado aquele
que tem a dor de um amor errado, e que o outro lado desconfie do amor acreditando. E que ambos desfrutem. No entanto, que no fim seja menos dor e mais respeito. Que seja amor até o infinito. Se for amor.
"Há muitas coisas que o tempo não pode apagar."
Comentários
Postar um comentário