"Quem corre para o limiar é louco, e quem o alcançar é ferido de aflição..."

Até hoje perplexo
ante o que murchou
e não eram pétalas.
De como este banco
não reteve forma,
cor e lembrança.

Não sei o que há de passar dentro de meu coração pequeno. Talvez seja só tempo. Tempo que se passa desordenado, quebrado em ¾ de um compasso diferente. E fora de mim, na calçada da imagem que inquietamente se transporta por meus olhos, o semblante de quem sente a dor de não ter-se, com se o pouco sol já não clareasse o suficiente pra conseguir produzir a própria imagem.

Acho que o tempo me levou. E quanto tempo já se passou desde quem eu fui Kaliany a última vez? Já não me resta nada de antes, já não existo mais em mim. Apenas sou uma imagem desbotada. Como se a pintura tivesse se exposto demais ao sol. O vermelho roseou. Tudo mais clareou.

Tempo que se vai, tempo que já não volta. Cores jogadas foras, cores indesejadas. Cores misturadas. Não tem mais tinta monocrômica. Não falo buscando uma resposta, uma satisfação, porque o que me falta é justamente o que me faz buscar o sorriso que só lá na frente vai me encontrar.

Minha atual indecisão é muito maior que sua simplicidade, é partir ou findar. Ambas se despedem ao seu jeito. Com precisão de proteção pessoal. Repleta de limites, mas completa ainda de rebeldia, de revolta. Porque minhas cores já não são minhas, apenas meus medos, por algum motivo que eu já não minto de não poder lutar. Mas a vida grita, a vida me quer exposta, entre os lábios que me desejam; entre as vidas que me rodeiam, e ao mesmo tempo eu continuo a me perder cada vez mais de mim mesma, e me acho diariamente numa outra pessoa, no outro corpo, na outra vida.

E aquele olhar, aquele que você conhecia, já não conhece mais. Já me desconhece também, assim como eu mesma já me perdi de mim. Apenas clamo que tenha paciência comigo [mas quem disse que é direito clamar por minhas velhas cores?]. Ninguém pode prender a própria liberdade de ser alguém mutável. Quem dirá as cores?


Se for possível, não precisa ser sempre, mas me rouba de mim, mesmo que pra perder uma tarde de domingo. E na simplicidade fala ao meu ouvido qualquer segredo, qualquer bobeira a toa, só pra falar ao ouvido mesmo. E não pense muito, talvez as cores mudem outra vez, talvez a direção, mas naquele momento eu estarei sendo exatamente as cores que você me faz expor. Serei novas cores pra ti. Serei uma pintura de acordo com a nossa mistura. Nossas tintas. Nossa arte. A arte de ser um só, novo, novamente. 

“três...tão pouco...
três pontos...
tanto para escrever...
tanto num quase nada...”

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