"Todos esses abismos, meu amor, não me deram regresso."





“Quem és tu? De onde vens?
Na tua fronte
Paira o vago crepúsculo infinito
Da distância...”



Na ânsia de dividir aquilo que outrora tive em meu peito
Submerso,
Permito-me estreitar a contradança desse dia,
Crio essa lonjura,
Almejando a mim,
Porque agora me sinto supostamente contrafeita,
Sou uma simulação de papel,
Qualquer chuva me desmancha.
E mesmo assim,
Permito o autoengano.
Mas o que eu poderia fazer?
Nessa minha singular circunstância,
Estando tão afastada de mim,
Cega pelo próprio espelho que transfigura essa imagem antipática,
Eu poderia simplesmente aceitar,
Que hoje,
Quem quer que fosse a desconhecida que eu via no espelho,
Emoldurou-se com outra forma,
Ficou velha de tanta quinquilharia,
Esvaziando de tudo aquilo que já não suportava carregar
E, no meio do espanto,
Precisou-se de [re] conhecer em meio aos próprios erros e acertos,
Para que a seguir,
Quando a tarde não fosse mais dia,
Ao dissimular a nova ocasião de desconhecimento do próprio eu
Facilmente apoderar-se-ia da nova circunstância.
                                                                                      

“Há nas tuas palavras um abismo.
Ouvindo-as logo sinto uma vertigem,
E, em sobressalto, chora e se lastima
O que, em mim, é vedado, oculto e virgem.
A parte indefinida do meu ser
Ama a sombra espectral em que desvairas...
E nem, ao menos, posso compreender
Esta força amorosa que me leva
Para a tua loucura!”


Nessas pequenas voltas,
Aqueles dias que as dissimulações são impecáveis      
Meus caros,
Que há de entendíveis
Em minhas palavras,
Por vezes amargas,
Soberbas de si,
 Tornam-se uma extensão.

[Coração bate, dói, arde, dilacerado]

Revolvem numa imprecisa impressão 3d.
E quem lê,
Quase pode tocar em mim,
Mas não,
Jamais compreenderão.

[suspiro]

                               Um
              Único,
                                                                  Contido,
                                                [Suspiro]

Ao alívio,
Em segundos,
Exalando o não pertencer a si,
Trapaceando, sim,
Porque o tempo não perdoa,
Ele devora nossos anos.
É exatamente assim,
Eis meu tormento
Traiçoeiro jeito de perder tempo,
Escrevendo.
E agora o que improviso?
Se o tempo me é furtado?
Já me entorpeço de minha lenteza.
Estou fanaticamente perto de meus débeis contrassensos,
Que por uma eventualidade,
Sinto-me ermo por dentro.
E, a mim, resta acatar.
E cá? Que há de me calhar?
Igual à morte que se perece sem haver sequer anseio,
E desfalece,
Ligeiro,
Com uma dor, intensa,
Que se torna incessante para a alma
Extensamente esquecida daquilo que atado ao peito,
Fere,
Mastiga até o que a alma destila de bonito.
[Suspiro]
E outra palavra escapa,
Outro minuto que já não volta mais.
 



“Como explicar minha risada súbita no meio de um jantar sério de negócios? Como explicar que debocho do que sou, mas com ternura? O deboche é minha maneira de falar que eu me entendo e isso não me basta. Que eu caminho como quem se escora em um ombro, que me escondo como quem caminha. Que nunca me salvei das noites onde não estive, que envelheci sem saber se a verdade traz beleza, se estava mesmo em mim ou se alguém perto me descreveu. Eu me apago sozinho. Não me acendi, mas podes deixar, eu me apago sozinho.”



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

I'm miss your touch - Emily Browning

A vergonha

Indignada...