"O meu tempo e o teu, amada, transcendem qualquer medida. Além do amor, não há nada, amar é o sumo da vida."
“Há na intimidade um limiar sagrado, encantamento e paixão não o podem
transpor mesmo que no silêncio assustador se fundam os lábios e o coração se
rasgue de amor. Onde a amizade nada pode nem os anos da felicidade mais sublime
e ardente, onde a alma é livre, e se torna estranha à vagarosa volúpia e seu
langor lento. Quem corre para o limiar é louco, e quem o alcançar é ferido de
aflição... Agora compreendes porque já não bate sob a tua mão em concha o meu
coração.”
(Anna Akhmátova)
Eu imagino que isso tudo
seja mais uma contramão, mas que é passagem. Ainda vai haver a hora de
recomeçar, de mãos atadas, palma a palma. E nenhuma palavra ficará em
distâncias mal resolvidas. Sim, terei o amor mesmo que apenas por pirraça, entrelaçada
no fascínio do pertencer de forma espontânea.
Quando tudo isso passar,
será que ainda haverá sentido? Haverá concordância? Hei de te ter nas minhas
palavras, ainda escrito, feito verbo em movimento que constrói toda a intriga,
se desliga e depois evapora? Hei de sentir tua presença criada, adentrando cada
espaço vago do meu coração imperfeito? Não sei, mas seremos um, dois por dois, e
com tua palma na minha calma, teremos um desenrolar talvez novo para mim, para
você.
Talvez seja espantoso
quando meus olhos se demorarem quando forem de encontro com teu tom de pele, na
vagareza da sua introspecção que me confunde, em nossos contrastes, enquanto
aprendo a cair, sem sequer tocar o chão, desmantelo-me o peito, implodindo de
tanta deselegante emoção. E na memória que se cria pelo toque dos lábios, serei
desequilíbrio que escreve tantos versos, na pele, com tinta de vida, aonde sou
apenas tua, e tu és somente meu. E desse dia em diante, ninguém poderá negar
que fui por um breve espaço de tempo um pouco transparente, um pouco quente, um
pouco ... Fui fluidez entre as palavras mais brutas e dóceis que aparecem em
minha mente.
Mas tudo isso não há de
se demorar muito. Porque desperdiçamos tantos anos. Teremos apenas alguns
poucos minutos para enlouquecer-se um do outro. Adoecer-nos de amor. Afrouxar o
peito e deixar que a pele comande nossas vontades. E a febre do corpo incessante, a boca que inquieta, o sangue agitado me transforma em pequeno vestígio de
autocontrole que já não tenho. Porém nada que tenha a nossa intensidade sufocante explícita
poderia ser menos inebriante, seremos eternos, como sempre. Em poucos minutos. Donos um do outro.
“Coloquemos um lenço sobre o rosto.
Não para o ocultar mas para que fique mais nítido o que vemos.
Essa há-de ser a margem das nossas feições,
a sua mais próxima brancura.
A respiração nem o toca sequer.
Outra brisa começava a atravessar o peito.
Ela vem agora ao nosso encontro sem qualquer ruido,
como se as mesmas folhas estivessem ausentes.
Sabemos há muito que é assim.
Depois o silêncio chega,
porque foi sempre a ele que estas vozes pertenceram.”
Não para o ocultar mas para que fique mais nítido o que vemos.
Essa há-de ser a margem das nossas feições,
a sua mais próxima brancura.
A respiração nem o toca sequer.
Outra brisa começava a atravessar o peito.
Ela vem agora ao nosso encontro sem qualquer ruido,
como se as mesmas folhas estivessem ausentes.
Sabemos há muito que é assim.
Depois o silêncio chega,
porque foi sempre a ele que estas vozes pertenceram.”
(Fernando Guimarães)
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