Idéias rondando os pensamentos

Sabe quando a gente é criança e nos afastamos dos nossos pais numa multidão, depois nos deparamos na situação da distância, com medo de perdê-los de vista, e a gente volta pelo mesmo caminho tentando encontrá-los? Eu me senti assim, mesmo com tantos anos, o mesmo medo. Eu senti como se fosse me perder, e a sensação de que não saberia como voltar como um ser mutável como qualquer outro, já que depois de mudar, não há como voltar ao que era antes. É um sentimento que confunde, cria moldes frágeis, e nos deixa distante do que somos para que possamos ver o que realmente somos por completo, porém, apesar de estarmos numa distância suficiente, não há luz.

Não existe arrependimento ou culpa da tentativa de tentar se encontrar, de ter ido um pouco mais além. É simples como pecar em silêncio, numa expressão de textura doce e triste. Uma mente tão masoquista, que tenta se divertir com as palavras sofridas. Promessas? Prometer, pra não doer mais, findar, e não fazer repetir. Então se aprende, que não basta tentar acabar com o sofrimento, tem mais alguns passos, aprender por isso a necessidade de se afastar, o medo, e a mudança de enxergar as coisas não mais pelos olhos, e sim pelo ouvido, tato, olfato e pelo gosto. Aprendemos a confiar em outras partes de nós mesmo que nunca demos importância até percebemos que fizemos tudo, e já não tropeçamos mais, então, mudamos de rumo. Existem os que voltam ao mesmo lugar, e os “outros” que seguem pra mais longe ainda. Alguns em silêncio, num esforço de atenção, deduzem se deveriam voltar ou mesmo com medo continuaria a andar em frente.

Comigo nunca foi fácil decidir o que fazer, e o que escolher pra tentar alcançar. Eu não soube a resposta assim tão fácil, então, tentei esconder as dúvidas comigo mesma e chorei por longos minutos ao ligar o chuveiro, pra ninguém mais saber – notar - quanto desnorteada eu me encontrava. Sempre recusei suportar o silêncio que transbordava de mim, mas não fazia nada pra conter, o que eu tinha por dentro se erguia e mostrava seu poder. Finalmente eu decidi que tentaria seguir em frente. Ficar parada não me responderia muita coisa e eu não ganharia nada esperando. Esperar não nos faz ter algo que desejamos, apenas remedia o desejo de buscar e cria a falta de querer - a vontade de buscar por mais. Justamente eu, que sempre quis tentar chegar ao mais profundo de mim mesma, sentir toda a expectativa de estar indo um pouco mais do que eu sou capaz de suportar, depois descobrir que certas respostas mudam com o tempo. Como tudo é mutável, eu nunca poderia afirmar que não seria capaz sem tentar.

Possibilidades de tentar são diferentes de realmente tentar, mas não significa que não pudesse ter ocorrido. Eu posso tentar suportar desafios, e se de repente eu descobrir que sou forte o suficiente, não significa que antes eu fosse assim, eu poderia não ter tentado descobrir e me intitular de frágil á desafios apenas por medo.

Eu nunca soube bem ao certo o querer que tinha, mas tinha a certeza de querer, a necessidade de possuir o desejo realizado. Também não sabia ao certo como conseguir, mas havia a certeza de poder seguir em frente mesmo com medo de não saber voltar.

Acho que você deve compreender, a gente pode mudar de rumo, sumir, desaparecer, mas sempre voltamos. A idéia de mudar, é saber que depois de tudo, sempre haverá um ponto a retornar, um lugar pra dormir, um abraço pra descansar, um momento pra comparar. E comigo não seria tão diferente assim, eu aceitei mudar e seguir os passos que eu tinha escolhido, mas eu queria voltar pra poder descobrir o quanto as coisas haviam modificado, queria voltar aos mesmos braços e ter os mesmos olhos a me olharem. Os braços que eu não poderia alcançar, tão próximos, na distância que eu não poderia contar, mas presente. Os mesmos olhos que seriam capazes de me compreender nas mais loucas das escolhas, e que me trariam sossego ao coração depois dos turbilhões de emoções. É encontrar algo que ao retornar seja possível ter certeza de um tudo que desaba, mas que você precisa reconstruir mesmo ao se perguntar o que mudou de ontem pra hoje. É uma vontade de querer tudo e nada ao mesmo tempo, e sem poder. 

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