A mania de querer entender tudo ao redor

Parado do meu lado – eu não sei o porquê - mas haveria enormes motivos simples para as possíveis causas que o levaram a estar ali. Justamente por não saber, pelo ar de tristeza ou pelo silêncio que às vezes incomoda mesmo vindo de alguém tão desconhecido, mas intimo apenas por estar deixando passar um pouco de emoção; poderia ser o vidro da janela sendo molhado pela chuva. Eu apenas o observei. Talvez ele não tenha percebido. Talvez tivesse absorto nos pensamentos, concentrado em cada lágrima perdida. Ou, talvez eu tenha passado rápido demais. Eu não sei, apenas o vi chorar lágrimas tão sinceras, simples, doídas. Não sei o que, de repente, sem soluço, rolando a revelia por mais que tentasse manter numa presunção inerte.

E quem seria aquela, do lado da janela do outro carro a achar algo? Alguém que apenas observava e interrogava atônita, e ansiosa por entender um mundo que não poderia participar. Sabendo que cada olhar se transforma na medida em que se observa de um ângulo diferente, a cada outro pensamento. Era como se houvessem milhões de situações, mas é tão silencioso, porque mesmo especulando trilhões de situações, todas poderiam estar erradas. A vida é simples demais, isso é a parte complicada, tentar ver do céu detalhes tão pequenos. 

Essa mania de querer entender, e ajudar. Encontrar palavras pra concertar o que não tem mais concerto. E se tiver? E se forem às palavras a única forma de machucar menos ou machucar mais?

O fato é que eu estava ali, e ele do outro lado, e mesmo assim, ambos distantes. Ele chorando entre águas descriminadas por si mesmo, e eu, observando, apenas. Senti vontade de fazer alguma coisa. Mas eu iria fazer o quê? E quem disse que eu poderia? A diferença entre atrapalhar e ajudar pode ser tão pequena ao ponto de fazer um no lugar da outra. O que seria mais provável?! Ninguém acredita na preocupação sem segundas ou terceiras intenções mesmo. Até eu não diferencio, então, o que fazer?

Eu olhei para os outros lados. A rua estava movimentada, tantas faces, tantos olhos mecânicos, outros brilhantes, ainda tinha os olhares perdidos. Umas pessoas mais tristes, outras nem tanto. Mas eu sabia, bem no fundo do coração, sabia o que estava acontecendo ali, imaginem do outro lado do mundo e quantos mais lados você conseguir imaginar.

Eu não sei, mas foi rápido demais; aqueles olhos, aquela chuva no vidro, aquele momento como todos os outros que nós faz donos de uma história só nossa. Simplesmente passou, o sinal abriu e não sei, mas aqueles olhos se perderam no meio do trânsito.

Algo ficou daquele olhar, um restinho de saber, um pouquinho do que se tem entre os dedos (ar) e que se desfaz em um suspiro. A tentativa de reagir a um momento, aquela sensação de chegar ao mesmo lugar de sempre, com os mesmos passos; mas pra sempre não existe, os passos são sempre diferentes. Dar os mesmos passos é impossível, o que muda não volta ao que era antes, isso viola a lei da casualidade. O que mudou pra melhor, não tem como voltar a ser pior, e só comete o mesmo erro se quiser. 

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