"Digo que meu jogo se resume a um rastro de perfume que eu deixo nos ares de lá."
(Cazuza)
Tudo o que eu tinha que
fazer era deixar rolar e me aconchegar. Naquele momento eu conseguia ver que
havia algo muito estranho acontecendo. Ninguém transporta tanto explosivo pra
nada. Eu me sentia penetrando num mundo gigantescamente obscuro, cada vez maior
na minha frente. Eu queria muito conhecer aquela mulher, mas queria fugir mais
ainda. Achei que conseguiria fugir, mas os capangas dela me detiveram. Eu
estava sob suspeita. A Marry foi colocada numa sala junto comigo, onde adormecemos
por algumas horas. Eramos dois estranhos numa sala de tijolos solitária, uma
lâmpada no alto que balançava ao ritmo do mar.
Ela acordou atordoada
com alguns homens pedindo que a levassem pra uma sala nomeada “sala X”. Algumas
horas depois eu fui solto junto com ela numa cidade litorânea. Lá fomos nós, e
duas horas após um silêncio estrondoso, surgiu uma conversa:
- Você pode falar
comigo se quiser – disse ela.
- Aham – concordei,
mesmo querendo esgana-la.
Por algum motivo eu
acho que ela pensava que aquela vida era interessante pra mim. Não sei porque
ela esperava que eu batesse palmas depois de quase ser morto e continuar sem
entender 90% da história. Eu não tinha mais nem expectativa de que realmente pudesse
a compreender, ela era louca demais pra mim.
- Você poderia me
explicar o que aconteceu?
- Porque eu te
contaria?
- Porque é horrível
se meter numa confusão sem saber o que é.
- É como eu disse no
inicio, melhor você não saber. Eu não quero correr o risco de te perder por ser
inconsequente, mas te quero por perto.
Por algum motivo eu não
soube se aquilo era algo bom ou ruim, mas de alguma forma sei que ela me queria
por perto. Senti como se atravessasse mais uma porta pra resposta de algumas
indagações sobre aquela mulher.
- Merda! Porque você
faz assim? – gritei, olhei pra ela como se estivesse em
desespero (e eu estava).
- O que eu fiz de
tão grave? Eu só estava querendo proteger você.
- Nem percebi,
sabia? Você me coloca num navio que transporta dinamite, sabe-se lá Deus pra o
que, e me fala que está me protegendo.
- Segura esse tom de
voz comigo. Não adiantaria eu não fazer isso, você quis.
- É. –
Eu disse.
E continuamos a andar.
Eu tentei me acalmar e repensar como eu aceitei entrar naquela louca história.
Foi assim que rodamos juntos por algum tempo. Até que ela resolveu falar um
pouco.
- Eu até sei que
você está curioso, e compreendo. Porém o que você quer saber não será tão
simples de descobrir. Eu sou louca demais para os seus padrões certinhos.
- Eu sei, mas eu
queria entender.
- Não há o que
entender. Só sinto falta da adrenalina correndo por todo o meu corpo.
- Por isso você faz
o que faz?
- Já fiz muita
coisa, tentei ser normal, mas não deu muito certo. Viver a vida sem senti-la é
como viver de mesquinharia. Por mim, todos os dias seriam completamente
imprevisíveis.
Ela era aparentemente o
tipo de mulher que não tinha nenhum tipo de preocupação, mas tinha uma coisa
chamada respeito consigo mesma. Eu realmente me sentia atraído por ela, só não
sabia exatamente o porque, ou em que.
- Você nunca se
cansou? –
Perguntei.
- Me cansar de ser
assim?
- É, tipo querer se
acalmar.
- Na verdade acho
que não tem como se cansar disso. É a melhor forma de diversão. Meu corpo
precisa daquilo como se fosse um alimento.
- Isso não vira rotina?
- Se você reparar
bem qualquer coisa se torna uma rotina. Independente de ser fixa ou não.
- Então?
- Reflita. Todo
mundo tem uma rotina, a diferença está nas pequenas coisas. E no meu caso não é
diferente, o que muda são as situações. Eu gosto do perigo, do inacessível, do
errado, bagunçado, eu gosto do que não deveria.
- Você é uma louca,
e eu continuo querendo fugir de ti, mas é como um imã. Ao menos tem um plano
pra amanhã?
- Puts, ainda não.
Mas também não faz diferença. Amanhã ainda demora, e eu prefiro pensar no
agora. E eu tenho tudo arquitetado pra agora. Você topa?
Eu sempre sinto que
cada palavra que sai daquela boca é um flerte poderoso, acho que dá pra notar. Eu
não sei se era meu carma. Topei. Na verdade, era impossível saber o que ela
estava tramando, tudo o que eu tenha certeza era que ela tinha domínio total
sobre mim.
"Você não poderia surgir agora
Você nem deveria me olhar assim
Alguma coisa diz que é pra eu ir embora
E outra diz que eu quero você pra mim"♫♪♫
Você nem deveria me olhar assim
Alguma coisa diz que é pra eu ir embora
E outra diz que eu quero você pra mim"♫♪♫
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