"O amor, esse sufoco, agora a pouco era muito, agora, apenas um sopro. Ah, troço de louco, corações trocando rosas e socos"


“ -Você é louca ou se faz de louca?
   -Os dois, meu amor, os dois.



Estávamos um pouco sem rumo. Pegamos uma carona na tentativa de fugir dos capangas que queriam meu fígado frito com muita cebola. No norte do País fomos despachados.
- Saia! – Uma voz ríspida ecoou daquela garganta após vários dias dirigindo. A poeira da estrada subiu e juntamente com o suor do calor local grudou na nossa pele.

De sobressalto a Marry acorda e arranja-se no banco.
- Que diabo é isso? – Ela olhou pra mim e para o motorista zangado. – O que foi que aconteceu? – Insistiu. – O que há de errado meu senhor?

O motorista saltou do carro, abriu a porta e a puxou pelo braço. E eu levantei abruptamente, o pegando pelo braço.
- O que você pensa que está fazendo? – a minha mão por algum motivo foi parar no queixo dele.

Marry: É interessante os homens, pra demonstrar sua testosterona e seus dotes (nesse caso desnecessário), bate e nem pensa no que realmente poderia acontecer. Pra que se mostrar assim?
Alfonso: Eu só estava te defendendo! Era pra eu ter deixado ele te machucar?
Marry: Sei, dotes? Defesa da pobre donzela em perigo? Ahh Fonso, conta outra vai!!
Alfonso: Porque mulher acha que homem banca o super herói? Tá, de certa forma eu queria ser útil, mas era mais por isso. E eu não iria deixar ninguém machucar a mulher que eu amo por nada.
Marry: huumm declarações assim? Assim você me deixa vermelha.
Alfonso: E se for a intensão? Deixa isso quieto, posso continuar?
Marry; Fique a vontade.

O motorista irritado pegou nossas coisas e jogou de dentro do carro.

- Você não pode nos deixar aqui no meio do nada. – desesperada a Marry reclama.
- Eu posso fazer o que eu quiser, e se quisesse teria matado você e esse seu namoradinho imbecil agora a pouco. – O motorista falou novamente alterado.
- Você não mata nem formiga. E se não vai ajudar, pode indicar no mínimo a direção da próxima cidade! Você não pode nos deixar no meio do nada assim! – Marry repete na tentativa dele entender que ela não era uma donzela chorando por necessidade e sim quem mandava na situação.

Impaciente, o motorista indicou a direção de três cidades. Marry se abaixou pra pegar as malas e jogou em cima do carro novamente.
- É o seguinte meu camarada, você me trouxe até aqui e vai me levar até onde disse que ia. Ninguém perde nada. Diferentemente de você, se não quiser ser morto aqui mesmo, acho bom contribuir. Se não entendeu ainda, eu te mostro. Então?

O motorista se contorceu todo com medo dela.
- É ..., você desculpa, mas eu não posso ir até lá. Vou entrar pra outra cidade e isso fica fora do rumo de vocês. Por favor não me mate?! – suplicou em desespero.

Cuidadosamente ele retirou as malas dela, e cambaleando tentou voltar ao seu lugar. Engatou a marcha e saiu sentido contrário ao que nós íamos. Enquanto isso segurei a Marry pra que ela não fizesse nada. E ficamos olhando o carro fazer subir uma listra de poeira até sumir.
- Nãooo, eu não acredito nessa merda. Como isso pode estar acontecendo? – queixei-me.
Desalentado, me sentei em cima da minha pouca bagagem. O silêncio que o vento não deixava chegar até mim passava como se tivesse tons variados. Senti um frio na espinha atravessar por todo o meu corpo. E assim ficamos sentados por cerca de três horas sem que nenhum sinal de veículo passasse pelo local.

- Não sei o que eu tinha quando confiei naquele imbecil. - Pronunciei indistintamente novamente.
- Faz cara feia não, que cara feia pra mim é fome! E outra, a culpa é sua que não me deixou fazer nada.
- Doida!

Alguma coisa havia acontecido pra aquele cara querer voltar assim tão desesperadamente. Eu até compreendo que os rumores de fugitivos com drogas de navios de carga tenham se espalhado, e até poderia ser essa a razão. Não obstante, as pessoas haviam feito retratos sobre os fugitivos e não me era impossível que um dos rostos fosse o meu, ou da Marry. Ele poderia muito bem ter visto algo em alguma das cidades que passamos.

- A culpa é sua, Marry! – falei indignado – Quem te deu permissão de se meter com bandido? Agora eu sou procurado da polícia nacional!
- E como se sente? – disse ela com aquele velho sorriso no canto dos lábios.
- Eu te odeio.
Então a beijei. Simples assim. E ela riu novamente com aquela cara cínica enquanto planejava o que faríamos logo em seguida.

- Posso saber o que você pretende agora? – Perguntei, já tendo a certeza que ela não falaria.
- Eu queria saber por que você ainda pergunta se já sabe que sempre terá uma resposta “não” diante destas perguntas diretas.
- Não pode fazer isso – Recamei em forma protestante – Eu somente não sei o que você pretende, e aonde vamos chegar. Eu poderia me sentir menos tolo se soubesse.
- Você não entende. Não é preciso saber, apenas curte tudo isso ao meu lado. Ah e você é o bobo mais lindo que eu conheço.
- Você sabe que eu faço isso, mas não...
- Você é meu bobo!
- Continua brincando de me envergonhar, você sabe como eu adoro (só que não). – Falei irritado.
- xiu, tem alguém por aqui. – Ela me cortou.
- Como você sabe?
- Escute os barulhos de galhos quebrando e passos. E não fale mais nada.
- Não seria melhor que achassem a gente?
- Não, não, se acharem a gente seremos presos e separados! Agora presta atenção, faça o que eu disser e não me questione.

Claro que mulher quando começa com essa de mandar é complicado. Acontece que eu fiquei tão irritado que até esqueci o que eu tinha pra dizer pra ela. Acho que eu queria acusa-la. Isso mesmo, acusar – e mais, falar durante horas – que ela tem feitiço sobre mim. E mesmo irritado eu a olhei perdido, e certo de que eu precisava estar com ela. Veja como são as coisas, pelo simples fato dela estar comigo eu era completo, sem sombra de dúvida, absolutamente, incontestavelmente louco por ela, eu sabia que eu estava com a mulher que me completava. E eu não queria mais nada. 

“O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
(...)

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

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