"Deixe que a alma tenha a mesma idade que a idade do céu.."
Condado de Windsor, EUA - 18 de maio de 2014.
"Querida Ana,
Só estava meio vazio, querendo falar uns troços pra
alguém de confiança, jogar conversa fora. Está todo mundo ficando velho e
esclerosado por dentro. Os bares estão perdendo feio para as novelas, não há
mais ninguém nas ruas. Não tenho me identificado muito com ninguém. Mas tudo
bem. Levei um tempo até entender que pode ser muito libertador não se sentir
parte de nada.
Aí foi que eu me enganei, eu não fazia parte de nada porque o meu tudo já não estava comigo. E qual sentindo faz?
Do seu, Mario."
Solarolo, Italia – 22 de
maio de 2014.
- Tem alguma
coisa de justo no meio disso tudo? De brincar assim com sentimentos?
- Depende,
sempre depende da forma como você enxerga a situação.
- Essa sua
resposta só me diz o quanto de dúvidas você tem a respeito da pergunta que fiz
- Ahh não, não
é duvida. Diga-me uma coisinha, até que ponto se brinca com sentimento sem se
envolver? Se envolver é a mesma coisa que pular no meio do mar sem saber nadar?
- Ok né, você
tá dizendo, então eu finjo que acredito.
- Olha, eu
não fiz nada demais. Apenas segui as entrelinhas.
- Eiita você,
quem vê essa carinha de anjo, essa voz mansa ... – Segurou pra
não soltar uma risada – Não vou deixar você fazer isso
com mais ninguém.
Ana conferiu tudo. Passou os olhos antes de enviar.
Respirou lentamente.
“Querido Mario,
Como diriam as mais
débeis palavras apaixonadas, nem o tempo é capaz de fraquejar o amor. Não
existe nada mais duradouro que esse tal sentimento. Ou pelo menos, dentro de
mim, até o rematar, não haverá um fenecimento, sem comigo o fim abordar. Porque
amor é calmo, é veloz também. E como se há de amar, e sentir aqui de longe o
teu coração, é achar demais que suspenso no tempo o sentimento permeia vivo, e
revivendo a cada dia.
Sempre estarei contigo.
De sua, Ana.”
Ela repassou o texto em
voz alta como de costume, clicou em remetente, e enviou. Tomou mais um gole da
coca cola quente. E saiu desenfreada. Afinal, tempo é melindroso quando se tem
tudo cronometrado. E quando o motivo é coração, talvez a dor de estar presa ao
dia a dia em pequenos instantes poderia ser aplacada.
"O vento só leva o que a gente deixa solto."
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