"Seu coração não bateu no peito, o coração batia oco entre o estômago e os intestinos."

“Vou me enganar mais uma vez, fingindo que te amo às vezes, como se não te amasse sempre.”


Eu tenho custado a vir aqui, por falta de tempo, por falta de saber como rescrever certas coisas. Por ter vivido tanto em pouco tempo. Porque lateja aqui dentro, mas nem sempre eu tenho como descrever tamanha discrepância da minha razão, da minha emoção, dos meus sentimentos.

Tenho guardado o que há dentro e fora de mim, e exposto apenas pra um ser no mundo. Não há nada de bom senso em se reservar em tudo para alguém, mas de que adianta resguardar-se e expor tudo pra alguém que não consegue perceber? Não sei se por faltar simplicidade em tudo aquilo, e na verdade eu estar impressa demais e arriscada ao que antes eu não idealizaria. E apesar de ser tão desigual de tudo o que eu já tenha sido, eu ainda assim precisava alcançar o tamanho da insanidade que eu estava me submetendo, era emoção, era desejo, era respeito, carinho, convicção de que seria assim para sempre até que o pra sempre chegasse ao fim. Apesar da visual trivialidade, não havia nada de ordinário naquilo tudo, era corpo, era alma, era vida. E tudo aquilo me fazia serva de um sentimento que me consumia dia após dia. Tudo o que eu dizia, me desdizia, e eu me rescindia em uma nova arquitetura de mim mesma, que no outro dia já tornaria uma nova atrapalhada Kaliany.

Eu não me idealizava, eu apenas me rearranjava, não havia um plano a seguir, apenas se improvisava aquilo que havia vontade, e o resultado era sempre feliz. Não tinha um começo específico, quando se notava já estava no meio da desordem. Depois de perceber, já era tarde demais, não tinha mais solução. Apenas havia um findar e recomeço. Era uma perdição voluntária. Porque de fato queria estar ali, e mesmo sem perceber eu sempre acabava naqueles braços. Era o entrelaço embaraçado dos nossos sentimentos alucinados, tornando toda a euforia em algo mais poderoso que a minha velha forma de certo ou errado. Superava minha mania certinha de andar sempre no preto e no branco. Sim, era imenso. É imenso.

Pra quem não puder compreender, eu não poderia sequer descrever o quanto desesperante é o que eu sinto agora. Talvez tenha sido o ponto certo pra provocar a minha natureza mais ébria de mim mesma, ou provavelmente eu tenha deixado meu lado óbvio de lado e passei a fingir que a antiga Kaliany nunca existiu. Apenas sei que não comando mais sentimento algum, nem mesmo aceito por vezes, não deveria ser assim, mas todo dia que eu abri meus olhos, automaticamente, tinha meu coração inundado pela mesma pessoa, e durante o dia, e antes de dormir, e durante o sonho. Eu apenas o amo, por amar, não por causa do cheiro, ou por causa de um detalhe no meu olho que ele percebeu no outro dia, ou pela voz arranhada assim que ele levantava pra dizer “bom dia”. É assim, e isso é lindo. Simplesmente assim, lindo.

E agora, sentindo falta, em meio à distância gigantesca, que pela primeira vez deixara de ser somente espaço, era distância de vontade de manter-se além.

Por agora, apenas sinto a tristeza que me faz não querer lembrar tanto e me lembra automaticamente. E eu continuo com aquele velho truque fingido de sempre disfarçar com um ar arrogante de quem não vai procurar e escondida chora desesperadamente. Eu choro, e choro. E só faço isso.

Prometi não entender essa loucura, não chorar tanto, e talvez ao passar dos dias não sentir doer. Mas isso não muda a dor de não entender a eloquência de não deixar de amar a única pessoa no mundo que eu jamais imaginaria. E amo. Amo até amanhã. E depois de amanhã. E depois de depois de amanhã. Também.


Sim, o amor cresce. Irresponsável, sem alimento, sem esperança e de uma burrice enorme. Ainda assim, forte e em crescimento.

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