"Ter fé é acreditar naquilo que você não vê; a recompensa por essa fé é ver aquilo em que você acredita."
“Lembre-se dessa
noite, porque ela é o começo de sempre. Uma promessa. Como uma recompensa por
persistir com a vida tanto tempo sozinho. A fé de um ao outro e a possibilidade
do amor. Uma decisão, para ignorar ou simplesmente levantar-se acima da dor do
passado. O compromisso, que de uma vez liga duas almas e ainda serve laços
prévios. A celebração, de uma chance ganha, e o desafio dos laços à frente.
Porque dois é sempre mais forte que um. Como uma equipe, preparada contra à
tempestade do mundo. E o amor... será sempre a força guiando nossas vidas. Para
esta noite é mera formalidade... só um anúncio ao mundo para o longo dos
sentimentos prendido. Promessas feitas há muito tempo no espaço sagrado de
nossos corações.”
Coisa bela é tudo o que se inicia, é vaidade
venenosa de quem finge que realmente conhece o jeito de disfarçar que a
realidade é muito difícil, que não dá pra ser perfeito, e muito menos que a
nossa capacidade é garantida no decorrer dos dias de esforço. Muito embora,
tudo o que deseja-se ao fim de um dia, uma cama, um lençol limpo, um sono
tranquilo, e um beijo de boa noite. Eis que essas coisas simples não possuem um
preço, não há valor mensurável.
Como todas as pessoas, Anabel possuiu sua primeira
vez, em 2003, com apenas 14 anos. Ela começara sua carreira no La Despache Tu
Sol fotografia, uma pequena empresa fotográfica que por pouco não quebrara no
inverno, tudo graças ao ambiente hostilizado pelos funcionários ali presentes,
num humor que consumia até o sorriso mais delicado daqueles que transbordam
serenidade. A sede do estúdio era ao lado de um pequeno parque, de longe se via
o lago do pequeno parque azul, refletindo a luz do sol, e era essa imagem que
por vezes salvava qualquer suspiro de morrer.
No dia em que toda a vida de Anabel mudaria, o especialista,
Mariano, apressou em prosear um pouco antes do início do turno seguinte,
sentado ao lado da mesa escondida por trás da porta branca. Mariano era um
senhor de aproximadamente 51 anos, ainda com seu cavanhaque desbotado, adotava
sempre a posição de que egocentrismo é sinônimo de falsos adjetivos e
advérbios, e reclamava “de nada adianta achar que sabedoria e conhecimento são
similares, e repito, todo egocêntrico tem consigo um monte de achismos
insignificantes, portanto não abra a boca se não souber o que vai dizer”.
- Boa tarde? Sr. Mariano, com licença, mas o senhor
gostaria de falar comigo? – Murmurou Anabel.
O técnico olhou de lado sem sequer movimentar para a
direção da moça, dos pés a cabeça lentamente. Ainda sentado, apoiou o cotovelo
na mesa e posteriormente levou a mão direita ao cavanhaque desbotado, puxando
alguns fios. Colocou uns papéis na mão e começou a falar as variações das cores
que havia achado, e como essas variações indicavam que 30% de tudo aquilo não
era o padrão que o cliente queria. Aquilo jamais indicava que a imagem
repassava o que fora pedido.
Durante minutos a moça ouvia aquelas palavras, mas
as pernas começaram a pesar, e sem muita intensão, viu que uma cadeira estava
desocupada, e sentou.
- Êpa, vamos parando por aqui, porque eu não entendi
o motivo que te fez pensar que poderia em hipótese alguma sentar nesta cadeira.
Quem ofereceu ou possibilitou que sentasse? – Murmurou sem sequer olhar para a
moça com o mesmo tom turrão.
Anabel levantou agoniada, e mesmo com a respiração
atordoada e o coração batendo acelerado, tentou conter-se. Ouviu-se um suspiro
longo, o Sr Mariano pegou uma caneta, fez algumas anotações, soltou-a em cima
da mesa, rearranjou-se na poltrona, olhou para a moça mais uma vez com aquele
olhar de quem pensa “ISSO É UM LIXO”.
- Anabel? – Perguntou.
- Sim senhor? – Respondeu prontamente.
- Eu ouvi pelos corredores que tens uma facilidade
de escrever. Procede?
- Ahh, não sei se isso realmente é verdade, ou sei
lá senhor, acho que não tenho muita facilidade para tal.
- Olha menina, não estou perguntando se você acha,
eu quero uma resposta conclusiva! Sinceramente eu espero que você saiba
escrever. Ou pelo menos, vou esperar que você consiga ser mais direta e tenha
uma facilidade maior escrevendo, já que falando você se enrola demais.
- Ahh – suspirou.
- Espero não estar incomodando, mas eu gostaria de
saber sobre o que tens facilidade de escrever?
- Não tem algo bem específico, eu escrevo o que
tenho vontade. Basta surgir uma vontade e ela vira palavra.
- Hum ... Eis um princípio.
O olhar do velho ranzinza transpareceu uma
amabilidade que jamais vira-se igual. Se ela por algum instante tivesse aberto
a boca pra dizer que colecionava pedaços de madeira e adesivos brancos para
pintar e reciclar, poderia ter tido um olhar mais profundo. Deu de ombros e riu
por dentro como quem não acredita naquilo que está vivendo.
- Menina, a Antônia falou sobre você, disse que tens
uma facilidade em escrever e criar situações, que discorre facilmente sobre
qualquer coisa e consegue prender. Não que isso seja grande coisa, mas se a Antônia
falou é porque tem de fato uma validade para ela. – falou Mariano.
Antônia era a fotógrafa ilustrativa de La Despache
Tu Sol. Fazia uma exposição mensal no salão principal da cidade, que por sinal
era o grande evento do marketing na cidade, o que gerava uma interessante
notoriedade diante de todos que a conheciam e principalmente, conheciam o
trabalho. Em meio a todo o glamour que sua profissão lhe emendava, trajava
sempre a roupa da moda, muito embora preferisse algumas das peças criadas
especialmente para ela. Tinha traços delicados, sorriso fácil, doce, um tanto
delicado. Cabelo grande, ondulado, loiro e sempre bem cuidado, parecia que
estava na pele a doçura de apenas ser daquele jeito.
Antônia era a pessoa a qual a Anabel tinha tido a
coragem de mostrar suas pequenas escritas, afinal, crescera vendo aquele
trabalho, e mesmo que ao longe apenas ajudando na montagem do cenário, por
algum motivo, a Antônia sempre foi atenciosa. Alguns anos depois, em 2009, foi
chamada para ser assistente. Até que num dos dias de tédio, observando algumas
ideias próprias, se atreveu a dizer:
- Anabelinha, eu acho que poderíamos apostar em
palavras, nas suas por sinal. Só preciso que tenha coragem pra se jogar na
roleta russa. Que tal? – Sorriu maliciosamente e discretamente.
Mas voltando aquela mesa, as fotos e a face chata do
Mariano, ouviu-se a reclamação.
- A Antônia é uma menina mimada, que acha que todo
mundo pode fazer as coisas por amor, e não é bem assim. Ela é delicada e “doce”
por nunca ter precisado ralar de fato. – Reclamou o Mariano.
- Não Sr Mariano, não é bem assim. Ela é uma boa pessoa,
as pessoas que criticam. Protestou a Anabel.
- Imagina, eu que estou criando isso tudo. Pra ti é
uma imagem ilustríssima, que tem até auréola de anja. Por sinal, fazem 12 dias
que me perturba para que eu dê a oportunidade da ideia nova para a moça mais
jovem da nossa empresa, enquanto isso eu ganho apenas um monte de problemas e
um ticket pro almoço. E se a moça pede pra eu colocar você numa grande
oportunidade, eu apenas obedeço, afinal ninguém consegue dizer um não para
aquela criatura, de forma que se ela não parar de falar a mesma coisa todos os
dias com aquela voz mansa de quem quer comer meu fígado silenciosamente
enquanto eu durmo, eu quero saber se você topa começar a trabalhar no nosso
projeto em conjunto com a mesma Antônia?
- Oh, nossa, eu agradeço ao senhor. Eu espero que eu
possa garantir ao senhor que não vais se arrepender de ...
- Menina, ainda tá cedo pra você agradecer. Tem
muita coisa por vir, e lembre de uma coisa importante, fale menos e faça a
diferença. Isso é a única coisa que importa e que de fato eu quero de ti.
- Sim Sr. – Respondeu atônita.
Mariano rearranjou-se em uma postura menos tensa e
comentou:
- Muito bem Mocinha, agora você já sabe quais são as
minhas prioridades, e começa encontrando as suas prioridades. E eu digo bem
claramente, que as suas prioridades por agora serão mais importantes que seus
princípios e regras. As respostas que obtemos vale dinheiro, e o que nós
queremos? – Perguntou.
- Dinheiro? – Respondeu.
- Não, não, queremos respostas! O dinheiro é
consequência. – Respondeu em tom entusiasta.
" A maior
recompensa para o trabalho do homem não é o que ele ganha com isso, mas o que
ele se torna com isso."
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