Das lágrimas ao contentamento


Vamos falar de ontem? Ontem que não fui capaz de esconder tantas lágrimas. Indecisas. Loucas. Francas. Lágrimas incompreensíveis. E num dia banal como ontem, uma terça feira em que tudo parecia com um ar mais triste. Muito triste, como se houvesse um espaço vazio que a gente finge que não existe. Então, eu tinha lágrimas e tristeza com motivos, mas não eram somente os motivos que estavam a me machucar. Tinha algo a mais. Eu só não sei o que exatamente estava a me incomodar tão profundamente, talvez fosse o dia que já me parecia discordar da minha existência, ou era somente tristeza, falta de algo que eu já não pareço lembrar tanto.

Sei que pode até parecer que essa tristeza vem se repetindo, mas não, isso não é de se repetir. É outra dor. Uma dor que ataca intensamente, que no momento eu não soube explicar e que mesmo passados horas desde o ocorrido, ainda estou incapacitada de explicar, de infiltrar nos meus sentimentos. É coisa estranha. Eu só estava realmente muito triste e chorosa. Era uma noite realmente complicada. Eu quis buscar do mundo sensações, amor, sentimentos. Só aprendi que isso tudo é bobagem, porque até então eu acreditava que tudo aquilo iria mudar a minha vida, mas o problema era que isso estava somente na minha cabeça, e só havia uma coisa a se fazer, conviver. Mesmo isso soando como um velho “Siga em frente. Viva a sua vida.”.

Eu sei que essa é a hora de desvendar algumas respostas, mas não vou interromper meu raciocínio, estou mais leve que ontem, e isso vai me ajudar a explicar algumas entrelinhas.

Dizem que a gente chora pra colocar o que está a explodir por dentro pra fora, sendo o choro água, e a água é o líquido perfeito, seja por sua natureza que o torna indispensável para a vida, ou seja, chorar é como tirar a alma pra lavar. Vai ver que era por isso que eu desatei a chorar, pra me livrar do peso, pra deixar minha alma mais transparente. É nesse ponto que eu tenho que focar. As pessoas sempre procuram um padrão, e assim, acreditam que se você segue aquele determinado padrão as coisas hão de ocorrer como imaginam. Sendo mais específica: Uma mulher é considerada como um padrão (não bom), e comete um erro. Quem observa esse padrão acredita que esse erro ao se repetir duas vezes, é sinal de que poderá se repetir dez ou mais. Será?

Particularmente falando, acredito que se alguém errou, aprendeu o erro, mas insiste em errar, é porque não existe um erro só. Ou mesmo, não é só esta pessoa que está a errar, tem mais gente errando na história. E por causa de um erro de mais de um a gente não consegue mais parar, é como se fosse uma doença crônica, vai a fundo e não tem cura, a gente erra, vê o erro, permanece errando porque sabe que se fizer certo vai ser tão ruim quanto depois de todos saberem do erro, mas pelo menos errando ainda vai ter um ou dois minutos de felicidade.

Porque tudo isso? Pra que? Muito simples a resposta, é preciso sentir a dor, sentir a vida, pra mudar, por isso tem que sofrer, chorar, e só depois disso é que se sabe o sabor da felicidade, do equilíbrio e do sorriso. Durante tudo isso o coração dói, e dói mesmo,  como se fosse alfinetado por espinhos, uma dor profunda, e sendo esse um órgão que quando apresenta dor é inespecífico pra quem está sentindo dizer onde realmente dói.

Ontem virei vítima da minha dor extravagante. E hoje, cá estou eu. Mais uma vez sem saber ao certo, sem entender como parece que nunca me canso disso, e como diria o Victor “quando é que vou tirar férias da vida?”, quem sabe ao menos nessa vez eu não sinta mais tanto. Dispense a dor, pra no dia seguinte não ficar apoquentando meu juízo com tantas perguntas débeis daquilo que eu já sei.
Agora sem pesos, amarras, cordas, e meu corpo pendurado; eu posso sentir como as borboletas a leveza do vento. Elas que são realmente felizes, duram um dia, não fazem nada demasiadamente importante, diferente, elas não precisam fazer a mudança, mas mudam, metamorfoseiam-se para melhor, se tornam de tantas cores, de beleza encantadora sem precisar de tanto tempo pra se acomodar nas mudanças. Por isso me apetece esse equilíbrio, mesmo que ele dure muito pouco. Um dia só. E ainda assim, elas sentem dor, assim como eu, e depois de um dia findam, assim como a minha dor se foi. 


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