"Depois de várias tempestades e naufrágios, o que fica em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro."



Um tempo antes de me preparar pra voltar a encarar essa tela branca consegui entender o tamanho do receio que havia. Decididamente, eu tentei olhar no mais profundo que estaria a se passar e o medo de voltar a escrever não é em não saber se haverá palavras, mas é o medo de ser o próprio contexto contado. Porque palavras, meu caro, machucam muito.

A única coisa pior do que encarar o nosso próprio mundo, é fugir por medo. Eu odeio saber disso, mas mesmo assim eu sei que nada é por acaso, e espero realmente que nas minhas entrelinhas eu tenha bons motivos pra acreditar que não deva me fechar tão profundamente outra vez.

Por algum tempo eu permaneci fechada na minha própria escuridão. Eu não sentia meu coração. E sem dúvida, eu estava perdida sim, muito mais perdida do que eu estou agora. Sobre isso, basta dizer que, em algum momento eu consegui sair de lá, uma mão me sustentou sobre o próprio coração, e através dele surgiu uma concordância profunda. Minha alma ficou a mercê daqueles braços. Minha cabeça tão confusa descansou naquele ombro também machucado. E eu fui cuidada docemente, gentilmente, por um longo período. Eu não entendo os meios termos de tudo isso, eu apenas vivi tudo, tentei permanecer viva. Sem culpas. Sem vergonha. Sem lágrimas.

Tudo o que começa aparentemente feliz, pode ser prenuncio de um sofrimento tão grande, que eu sempre paro pra ouvir, sentir, perceber a que velocidade o tempo está a passar. Acho deve ser medo. Claro que tem um fundo de timidez, afinal todos nós temos um lado que escondemos até de nós mesmos, e isso não vem exatamente ao caso agora. Ou pelo menos, não vou tratar sobre os tantos lados que alguém pode possuir até que perceba quem realmente é.

Tentarei não confundir. Tudo o que começa tem inicio antes do ponto de partida. A gente é que tem a falsa sensação de que o começo é onde demarcamos, mas na realidade, as linhas traçadas nem sempre são tão visíveis aos olhos. E como tal, o destino não é coisa muito condescendente com fatos, afinal uma conveniência conduz espontaneamente pra uma ocasião já preestabelecida, por favor, não se iluda no falso pensamento de que as coisas não estão interligadas.

Vamos direto ao ponto. Antes de me esconder nesse mundo obscuro que criei por puro desespero, houvera alguém que incitara a criação desse enganoso mundo a qual eu preferi me prender. Quando finalmente me encontrei perdida e com uma mão estendida, eu recusei, desviei, mas deixei ser salva da minha própria armadilha. Fiquei por um bom tempo com meu rosto ainda pálido, que aos poucos suavizou e se tornou novamente a minha verdade estampada. E depois de muito tempo eu consegui sair debaixo daquela nuvem de arrependimento. Eu aprendi a ter esperança, porque eu descobri que em algum lugar, por mais escuro que pareça, vai haver uma saída. Eu só não tinha notado um simples detalhe, que numa história de dois, quando aparece uma terceira pessoa, as ligações se tornam mais profundas, e sem querer as demarcações que outrora só fariam sofrer a dois, agora serão a três.

Agora, diante dessa tela branca eu consigo enxergar mais profundo, mais amplo. O silêncio que vai surgir a partir dessa nova situação não vai mais representar quietude, cumplicidade, não vai ser mais o ombro machucado a cuidar de mim, não vai ser minha calma ouvindo a respiração dele, e também não vai ser paz. Eu vou ter duas portas a minha frente. Ou eu volto pra escuridão, ou sigo em frente diante de um novo recomeço. Por algum motivo, eu preferia esperar, ficar quieta. Sem fazer nenhum movimento. Talvez até exista uma razão nisso, mas a vida não vai esperar por mim. O que me curou se tornou meu vício. Talvez meu próximo passo seja um abismo, talvez não.

 "... o tempo que temos, se estamos atentos, será sempre exato."

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