"O que a lagarta chama de fim do mundo, o homem chama de borboleta."



Uma das manias das pessoas é sair falando tudo pelos cantos, contando ao vento aquilo que é ou não. Eu sempre achei que é descaso com a vida sair falando dela pra qualquer um, mas ninguém nunca entendeu minha análise de que a vida de cada um só deve ser conhecida detalhadamente pelo tal ao qual foi concebida.
Melhor dizer porque “cargas d’agua” discordo dessa falação. Vou contar tudo o que eu sei sobre a Giuelly.
A principio, de análise, a Giuelly pode ser qualquer um. Aposto que se fosse pra dar um palpite ou até três o primeiro que vocês falariam era que eu sou a Giuelly. Mas não. E de fato, errariam todas às vezes. É difícil né? Imagina se sempre julgássemos tudo pelo princípio?
A Giuelly é uma lagartinha. Verde e bem gordinha.
Ahh por favor, não falem pra ela que eu chamei de gorda, porque ela é a lagartinha mais linda que eu já vi. A conheci um dia desses quando fui colocar um pouco de água na samambaia. Ela estava acompanhada de um lagarto chamado Silas, ele ama muito a Gi.
Melhor eu falar tudo sem meias verdades?! É que a Gi tem uns pelinhos. Mas acho que ninguém vai se importar né? Porque eu suponho que pra todo mundo o que realmente importa é o que está por dentro.
Não é só isso, a Gi é muito boba. Tem gente que fala tanto sobre esse descuido da atenção dela, mas não acho que seja tanto, se realmente conhece-la vai saber que a culpa é do pensamento que fica solto e misturado demais aos sentimentos. Não que ela sempre esteja perdida no mundo das lagartas, mas ela fica um bom tempo perdida. É que por lá ela sabe que ninguém vai incomodar, lá é pra pensar em qualquer coisa, mas na verdade, o pensamento é quase sempre o mesmo.
O Silas passa o dia todo comendo folhas, tentando ganhar massa, deve ser vaidade. É que ele pensa que por ser forte terá força pra mandar no mundo.
A Gi ficou um pouco estranha nas ultimas semanas. Ela se trancou mais que o normal no mundinho dela. Ficou distante. No casulo mais belo que eu já avistei nessa época do ano. Só dava pra ouvir o silêncio que mais parecia “a mudança é traçada pelas linhas as quais você desenha”.


Sem nenhuma pressa ela permaneceu. Até perguntei porque tanto tempo. E ela apenas respondeu no seu voto silencioso “tudo tem o tempo exato, e meu tempo é esse, lento”. Não que as outras lagartas que apareceram depois da Gi fossem diferentes, elas também tinham similaridades. Só a Gi que era diferente. Era de outra raça. E ainda assim, todos ali pareciam saber que não fazia diferença.
Eu sei que imaginar uma lagarta cabeluda e que se trancou num casulo marrom escuro é muito complicado. Mas se você já avistou por aí uma lagarta verde, gordinha e meio cabeluda, é como o retrato da Gi.
Sempre vai haver um retrato que tenha traços parecidos aos da Gi. Mas o que a Gi resolver ousar e mudar, vai diferencia-la. Pena que nem todas as lagartas terminam como ela. Algumas delas tratam a vida como uma caixa de sapato vazia.
Um dia, a Gi resolveu sair dos pensamentos, do casulo. E aos poucos foi sendo rompidas todas as camadas da parede que a separava do mundo. Todos observaram, e o Silas todo apreensivo, quase imóvel para reaproximar-se e poder toca-la. Era um momento especial. Como é que ela estava se sentindo? Bom, eu não sei precisamente, mas devia de ser algo bom. Primeiramente avistou-se uma cor azulada que saia pra fora do casulo. Aos poucos mais cores surgiam. Todos hipnotizados pela visão. A Gi havia se transformado numa linda borboleta.

Ela apreciou o que tinha em volta. Até que uma coisa muito louca aconteceu. Alguém tentou pega-la. Queriam prender a colorida Gi. Então, assustada, fugiu pra longe.
Depois de um bom tempo ela encontrou outras borboletas, amarelas com verde, azul com rosa, todas as cores, de todos os gêneros e da quantidade que eu nunca terminaria de contar. Então, quando se sentiu segura voltou para minha samambaia, e não encontrou mais as lagartas. Viu que quase todos tinham se metamorfoseado. E assim ela disse pra todas que lá fora tinha um jardim cheio de outras como elas. E que havia liberdade.
Antes de conhecer a Gi eu ficava olhando para as lagartas, por horas e horas. Não sei bem ao certo porque, talvez porque eu as achasse repugnantes. Vi tantas lagartas que nem sei ao certo quantas. Mas eu vi que houve uma mudança. A Gi me ensinou que por dentro é sempre mais belo, e depois de entrar no casulo e metamorfosear, o belo se expande pra fora, e então, você consegue ver realmente o que há dentro da alma.
Eu queria tanto ser como a Gi. Talvez não me tornasse tão colorida, mas ao certo tentaria mudar, metamorfosear para melhor. Talvez assim eu entendesse tantas coisas as quais me pergunto.
A Gi sempre se perguntou como somos realmente por dentro. Então eu resolvi explicar que somos muito complexos. Alguns mentem, outros omitem e apenas alguns são realmente verdadeiros. Muitos mudam com o passar do tempo, mas outros assim como algumas lagartas, tratam a vida como uma caixa de sapato vazia.
Melhor eu dar a notícia de cara. A Gi viveu pouco. Apenas 10 dias. É engraçado como tudo muda rápido, e pra ela, nem se compara. E a gente nunca repara na lagarta, mas não escapa aos olhos o espetáculo da borboleta. Ser humano é coisa estranha mesmo, nem sempre percebe que a beleza está no meio termo, na mudança que só assim aparece o grande fim. Vai ver é por isso que alguns vivem tanto, deve ser Deus tentando mostrar porque é tão belo a mudança, a parte crítica do sofrimento e não o final.
Agora com licença, eu vou me ausentar um pouco, refletir. Quem sabe eu não ganhe asas e cores lindas?! 

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