"Por isso, preste atenção nos sinais, não deixe que as loucuras do dia a dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O amor."
“Se
minhas loucuras tivessem explicações, não seriam loucuras.”
A vida planeja
encontros, desencontros, e desencontros encontrados. Tanto é que alguns meses
após me separar de forma brusca com Sandra, nesses desencontros encontrados, eu
conheci a Marry. Mal sabia que começaria a entrar numa das fases mais complexas
da minha vida, da qual preferia nem lembrar, exceto que a separação com a
Sandra e meus problemas me fez crescer; uma parte minha ficou no passado,
morto; outra parte de mim quis recomeçar. Com o surgimento de Marry na minha
vida, posso dizer que inicia um período transitório. Até então eu pensava
somente em possibilidades de estar com a Sandra longe de todos os conflitos que
nos unia, porém a ideia sempre foi algo vago demais, e nunca passamos da
paixão. Quanto a Marry, diria que ela seria o ingrediente que faltava pra tudo
começar a andar, pras engrenagens moverem-se novamente a todo vapor. E toda a
vida da Marry era um antes e um depois.
Quando a Marry era a
antiga menina, uma garota sem limites, envolta de todo um ar misterioso,
contido e ao mesmo tempo vulgarizado. De repente, descobri que havia
entrelaçados profundos e sofríveis, tamanha situação fizera a menina ser
internada numa clínica, sendo mandada diretamente pra capital. E também fiquei
sabendo de um casamento que havia acontecido pouco antes disso tudo com um cara
chamado Mario.
Um dia, no meio das
minhas andanças, coisas que só vagabundo sem dinheiro poderia descrever, dei de
cara com o Charles e Thomas dizendo que a Marry tinha feito reservas num
hotelzinho barato de meio de estrada. Tinha aparecido pela capital na noite
anterior com seu marido. Mas o Mario repetia sempre uma frase
ininterruptamente: “ – E,stá feito, estamos aqui, e mesmo que eu não tenha dito
nem inicio do que eu planejava quando atravessamos as divisas de estado, o
momento é pra esquecer detalhes do passado e focar no que realmente temos que
fazer daqui em diante.”
Eu, curioso como
ninguém mais, resolvi aparecer pelo tal hotel, a Marry abriu a porta apenas de
lingeries. O Mario surgiu do nada, e expulsou o outro amigo pedindo que fosse
pra cozinha. Uma coisa dava pra notar perceptivelmente naquele casal estranho,
ambos tinham uma visão de que o sexo estava acima de qualquer outra coisa, e em
segundo plano o restante que a vida supõe necessitar. E minha primeira
impressão sobre o Mario foi a de um cara aparentemente incomum e que parecia
ter um poder sobre tudo o que tinha ao redor. E tudo o que eu sabia sobre ele era que antes de
se casar com a Marry tinha trabalhado durante um tempo pra um fazendeiro da
cidade. A Marry era uma morena, pretenciosa e com uma graça que eu não teria
palavras pra descrever. Tinha os cabelos longos e ondulados, como um mar de
ondas brilhantes de cor escura. E ela estava ali parada, observando tudo, no
cantinho do sofá surrado da espelunca, com as mãos apoiadas sobre as pernas e
um olhar de expressão temerosa. E porque? Estava ela num apartamento sujo, que
se mantinha de pé por ainda ter alguma força contra a gravidade, casada e com
um marido que não sabia o que se passava na cabeça diabólica dele. Eu diria que
ela era uma porta pra um mundo de arte clássica misturada com um ar
contemporâneo. Porém, apesar de linda, assim como o marido, era capaz de
realizar coisas horrendas.
Naquela noite, tudo o
que lembro são das cervejas, jogos de azar, luzes e a Marry se levantando
vagarosamente na minha direção, olhou em meus olhos de forma compenetrada, e
saiu sem dizer nada pra preparar um café. Disse apenas:
- É o seguinte, existem
coisas que você não vai poder compreender, a questão é não se deixar perder-se.
Se você sair do compasso, do meu ritmo, é bem provável que nossos planos
terminem de uma forma inesperada!
- O que você quer dizer
com isso? E porque estamos tendo essa conversa?
- Você acha que eu não
percebi?
- hã? Percebeu o que?
- Vou deixar você
descobrir sozinho!
Durante uma semana, a
Marry me perseguiu os pensamentos, e volta e meia eu me pegava querendo
entender o que a mente dela estava querendo me dizer com aquela pequena prosa.
Achei que a deveria procurar pra saber mais, porém ela já tinha me deixado na
curiosidade ao dizer que eu ter ia que descobrir por mim mesmo. Nesse meio
tempo, eu consegui um emprego pro Mario, que por algum motivo brigou com a Marry,
e ninguém quis comentar o ocorrido, justamente por a Marry ter feito uma
denuncia a polícia, da qual 90% era mentira. Por causa dessa confusão o Mario
fugiu pra uma cidade do interior. A Marry, após essa situação se viu sem o
marido e sem casa. A deixei morando com uma prima.
Numa noite das quais eu tinha retirado pra
estudar e permanecia em casa, ouvi uma batida na porta do meu quarto, e lá na porta
estava a Marry.
- Marry? Que fazes
aqui?
- Tua tia não estava em
casa, eu não queria ficar só.
- Teve notícias do
Mario?
- Aquele grosso? Está
longe uma hora dessas.
Pra não ficarmos na
porta, a chamei pra tomar um whisky, até porque ser pego pela minha tia com a
visita conversando não era o melhor. Naquele momento vi uma troca de olhares,
um frenesi e uma resposta simples:
- Você é louco.
- É, também me acho
louco!
No bar ela disse:
- Ah, entendo você,
afinal o que eu poderia dizer pra ti sem que você mergulhasse na maior
alucinação da sua vida sem se perder? Nada!
- Sim, mas eu não sei
nem do que estamos a falar exatamente.
- Falo dos teus
anseios. Pena que pra você qualquer realização por menor que seja interdepende
da outra.
Eu percebi que
realmente estava confuso naqueles dias. Pra ser mais específico, eu era apenas
um deslumbrado conversando com uma louca, quer situação mais macabra?
“Todo
homem tem suas loucuras — e frequentemente elas são as coisas mais
interessantes que ele tem.”
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