"Acho que me perdi numa excursão que fiz na tua certeza e na contradição ♫"

“Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar


Ela: Eu tenho sido tão estranha, andado tão perdida. Vivendo pela metade. A verdade é que já não sei mais onde é meu começo, meu meio, meu fim. Tem doído tanto, que eu não aguento. É demais até pra uma masoquista sentimental como eu. E isso tem atravessado minha vida de uma forma que as coisas ficam tão limitadas.

Ele: O que você tem feito com tudo isso que te corrói?

Ela: Eu nunca soube exatamente o que fazer. É difícil lidar com tudo isso dentro de mim.

Ele: Mas...

Ela: Estou tentando seguir o que dizem. Dou o meu melhor. E o resultado disso tudo tem transparecido numa pessoa mais amarga. E continua doendo. Então, não faz o menor sentido ouvir os outros quando eles não estão dentro de mim para entender.

Ele: Eu posso tentar entender? Você me explica?

Ela: Não acho que você seria capaz. Ninguém pode entrar na dor do outro, a não ser que viva a mesma dor.

Ele: Diz como é tua dor, que a minha pode ser igual. Eu posso entender ou não. Isso não vai resolver, mas dividir a dor, é igual a dividir sorrisos.

Ela: Tá bem, você venceu. Eu não sei como explicar, mas uma parte interior grita “cuidado”, outra faz alarme com “tenha paciência”, mas a verdade é que é medo. Isso tudo realmente é assustador. Mas eu não sei, tá tudo tão confuso.

Ele: A vida é confusa e você precisa criar força pra continuar, e escolher.

Ela: Eu achava que dava pra escolher como cara e coroa. E não é assim ou talvez seja, mas tem tantas coisas que divergem. Eu não quero ser assim, não quero ser limitada a superfície da maioria, mas ficar na profundidade também é sufocante. Oscilar entre os dois é loucura total. Então o que me falta? Arriscar? Mesmo depois de tantos tapas na “cara”, depois de tanto vazio, de tanta profundidade, é arriscar? É isso que me falta?

Ele: Não é simples como cara ou coroa. Não é tão fácil quanto você pensou. O que eu poderia dizer? No fundo a dor que você sente é a tua própria consciência clamando por um espaço, por um tempo, por um intervalo.

Ela: Talvez seja isso. A minha luz não tem mais forças, afinal, eu sendo como uma sombra, sem luz, eu não existo. Com luz, dependendo do ângulo, estou mais a frente; estou abaixo, estou por trás. Sou um resultado de um começo de claridade. E ainda assim, dependo do início. Mas isso continua me prendendo em três espaços!

Ele: Deixa que teu pensamento fale mais alto. Não é uma limitação, você quem decide se quer limitar-se.

 Ela: Como eu escolho meu limite se todas as vezes a força que faço pra mudar acaba ecoando em lágrimas, acordes, cores.

Ele: Sabe, eu te entendo. E o que eu vejo é que existe uma discrepância do que é querer e ter que não cabe mais em ti, por isso transborda de forma tão grotesca ou doce. Então, você acrescenta um pouco de azul, mais uma gota de vermelho, um verde pra dar contraste ... quem sabe um branco pra dar mais luz. Mais vida. O que há dentro de ti é grande demais pra ficar guardado.

Ela: Não sei se é isso. Eu só queria acordar. Ou quem sabe me convencer que posso mais, eu que não sou nem sequer minha, talvez sendo parte de um tudo. Acho que estaria sendo maior que meu limite passar através de outros, através dos teus olhos, da tua voz, das cordas de um violão. Ou isso tornaria meu novo limite?

Ele: Tenta! Embriague-se de sensações. Encharque o dia a dia de quinquilharias sobre mim, sobre você, sobre nós, sobre os outros. É a melhor maneira de representar um novo artifício, uma nova mulher, uma a cada dia, uma que um dia será de fato você mesma e quem sabe só minha.

Ela: Seria intrigante.

Ele: Ser tantas ao mesmo tempo? 

Ela: Os dois. Ser só tua e ser uma quantidade tão grande de inquietas pessoas. Todas ao mesmo tempo. Todas numa só. E como posso ser tanto se nem minha eu sou? Meu bem, eu me defino entre uma sátira inacabável. Sou um sorriso inesperado e um choro contentado. E você gostaria de me ter só pra ti ainda assim?

Ele: Nunca me passou pela cabeça ter alguém tão completamente que não fosse você. Entenda minha menina, não importa quão perdida esteja, eu também estarei. Somos um retrato no preto e no branco. Eu sou o preto e você a cor branca. Ambos juntos. Logo não existiria nada se você não fosse minha claridade. Assim, nada mais natural te querer só pra mim! Deixa-me perder em ti mais uma vez?  Se é que existe um sentido nisso de recomeçar pra mais uma vez esvair.

Ela: Você é tão louco quanto eu!

Ele: Isso é um problema?

Ela: Nunca foi um problema, contanto que nunca fique tão longe.  No entanto, isso não retira meu inapropriada.

Ele: Não é inapropriada. É que você existe em mim. Eu existo em ti. Somos dois loucos que se completam e ninguém precisa entender. Não há como ficar longe.


“Eu não sei na verdade quem eu sou,
Já tentei calcular o meu valor,
Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou...
Por que a gente é desse jeito
Criando conceito pra tudo que restou?

Comentários

  1. Vamos simplificar? O amor nos livra dos limites. E não torna-se um limite novo, porque a vida também precisa ser mais aberta, já que inegavelmente fica presa na morte!

    ok meu doce, eu realmente me perdi no seu texto. Tanto quanto você mesma.

    Beijos

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    Respostas
    1. Normal né? Bem normal. E dá pra se encontrar e entender? .-. never!

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