"As palavras, estejam reunidas como estiverem, explicam-nos sempre pouco"
[NOTA]
“Qualquer texto, por mais certeiro que seja,
dificilmente consegue apropriar-se dessa zona em que, ao nos explicarmos
melhor, ainda nos explicamos menos do que seria necessário “
E
se a gente soubesse o tamanho do estrago da inércia em nossos próprios
comentários, será que mudaríamos nossa forma de falar? Essa pergunta fica para
vocês, e quem sabe, ao final dessa conversa desbocada que teremos, talvez
tenhamos um ponto alvo para uma reflexão positiva.
Primeiramente,
sou muito prolixa, e ao fundo do meu fardo acredito que todos sejamos um tanto
dispersos mesmo, e naturalmente sejamos em alguma parte iguais a tudo. Como
somos muitos, vou chamar vocês de indivíduos capacitados para interações
interpessoais (ao menos finjamos), e esta capacidade inerente (ou não), pode ser brusca ou branda. Essa interação se multiplica, existindo vários tipos
de interações, mas para o tal interesse deste texto infeliz, vamos nos ater as interações verbais, justamente as quais
utilizo para convosco nesse momento. Para descomplicar, dizer
quem são, como são, ou criar rótulos facilita a organização, mas ainda assim
diz muito pouco, afinal existem tantas características ínfimas que nos tornam
de caráter único, portanto usarei da minha possibilidade de quem vos escreve
para aconchegar vossa leitura, porventura utilizo o pronome “Eu”.
Como
poderia começar a explicar? Vejamos, sou uma pessoa (ninguém percebeu?!), meio prolixa, que mora lá
onde o vento fez a curva, mas se fez andorinha e mudou de rumo, chegou “ontonte”
pra esse mundo, em que uma rede social tem mais poder que uma arma de fogo (e que poder).
Eu
digo um “tico” mais, essas palavras ainda são supérfluas, afinal, nessa
igualdade existem tantos outros, que pegaram seus caminhos e foram andar ao
mundo, sem saber o dia de voltar, se poderia voltar e quando teria descanso.
Quase todos estão lá, com suas mentes conturbadas, com ideias fervendo, e ainda
com sorriso engrandecido, pensando qual a penúria do próximo dia.
Somos
todos semelhantes, com as mesmas características. Porém, será que a mesma sorte
que “tu tem, tem eu”? Quais os caminhos que me levam, e quais os caminhos que
te buscam? Eu volto a perguntar, porque é justa a causa de pensar, mas a
capacidade de inércia é involuntária. Sem que tenhamos uma força para mudar a
direção, sem a gravidade (como tal empregada corretamente, mesmo no sentido
metafórico), jamais vai parar.
Eu,
enquanto escriturava tais palavras, e repensava quantas vezes desconheci a
incapacidade de transferir meu pensamento (como qualquer pensamento tem uma
enorme probabilidade de estar errado) para ademais, me sinto perder a
capacidade de sintetizar com efeito fidedigno, e meu argumento morre, moribundo de bases fortes. Típico argumento
que dura 3 segundos e vira poeira (de tanta fraqueza, acaba padecendo).
Deixando
o pronome “eu” de lado, gostaria de pedir tua licença (caro leitor), e imagine
6,7 bilhões de pessoas iguais a mim, escriturando ou falando sem pensar antes
(ou fingindo que pensa)? Somos muitos pensantes insanos. Iguais em tudo na
forma de proferir opinião, caindo menos vezes que levantando, e ainda assim
tentando redarguir perante tantos planos inquietantes, e esbravejando, tentando
arrancar algo de concreto em um mar de subjetividade. Mas para que nos
conheçamos, eu quero explicar um pequeno acontecimento, desses que a gente não
esquece. “Pra mode” a gente se entender.
Um
certo dia, no meio dos devaneios do meio dia, proseando no bar do Céu sem
fundo, duas criaturas comentavam e riam.
-
“Cumpade”, o seu Zé não se “alembra” mais de nada. Está quase com o pé na cova.
De defunto só falta a morte.
-
Mas “Homi”, não diga isso não. Quem que é esse seu Zé? “Promode de saber”?
-
Seu Zé, lá da rua 7, que mora na quinta casa depois da velha boticária. “Tu se
alembra?”.
Dois
minutos depois, entra Antônio Ciço, em tom de berro, tentando expor o
acontecido:
-
Morreeeeeeeeeu! Morreuuuuu!
-
Quem morreu homi de Deus?!
-
Seu Zé, lá da rua 7. – Diz ciço.
-
Não me diga?
-
“Iapois”.
-
Ciço da rua 7? Depois da Boticária?
-
Não, seu Zé da botica viajou. Quem bateu as solas das Havaianas foi o seu Zé da 7 que fica na esquina depois da
praça. Mas já mataram o coitado umas 5 vezes só esse mês. Coitado, tem culpa de
nada, mas se tivesse morrido, precisaria de ao menos ter nascido gato.
-
Gato pra que?
-
Seu tonto, 7 vidas.
-
E pra “adonde” ele foi?
-
Foi lá “pronde” o céu arde feito fogo, do chão tem rastro de seca, e dá pra
fritar um ovo na calçada ao meio dia?
-
Mossoró? “Vish maria”, pois vai “vortar” todo “estupiado”.
-
Ele disse que volta não.
-
“Promó”?
-
Diz ele que aqui a vida é cheia de peia, e lá ele vai viver mais anos de
calmaria.
Muito
bravo, o compadre se exaltou:
-
“Peraê” seus besta! Eu lá quero saber desse “fresquento”. “Mió” tu contar de
que seu Zé morreu. Porque né? Pobre não falece, morre de morte morrida.
-
“Iapois”, foi disso mesmo.
Após
três dias, o veículo de informação da cidade informa (vulgo carro de velório - ou o carro da pomada mágica):
(trilha
sonora de enterro)
“Morre,
aos 78 anos, senhor José Antônio Silva. Aos parentes e amigos, a missa será na
paróquia de Alagoinha grande, as 17:00.”
E
como dita a regra, “quem conta um conto, aumenta um ponto”, no final da
conversa dos três desavisados, quem falecera não era nenhum Zé anteriormente mencionado.
E nessa brincadeira, foi tanto homicídio que o chão que tinha aquela terra
chamada Alagoinha não seria capaz de cobrir.
Agora,
voltando ao ponto da dispersão, se palavra é arma, em terra de linguarudo alma sobra e corpo padece. Afinal ... né? ... Existe sempre um ponto bifurcando tudo e
virando aquele mal entendido, e quando percebemos, já não faz o menor sentido e
mesmo assim continuamos perpetuando nossas ideias sem a menor percepção de onde
vai parar.
Ademais
... Deixo para vocês o direito a palavra, afinal, já falei besteira que é uma
beleza. Por hoje, é só!
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