"Estou atravessando o esquecimento" (Antônio Gamoneda)

“E não sei quase mais nada. Aspiro apenas
a estar contigo em paz e a estar em paz
com um dever desconhecido
que às vezes me pesa também no coração”

(Antônio Gamoneda)

Eu sei que hoje é um daqueles dias normais, que a gente tem apenas um monte de responsabilidades. Também sei que eu poderia estar fazendo outras coisas importantes, mas meu pensamento ficou um tanto preso aos detalhes das minhas entrelinhas. Eu sinto que é muito difícil lidar com tanto sentimento, com tanta estrada que dividimos os passos. 

Hoje, com todos os anos, posso dizer isso sem receio de estar errada. Eu realmente te amo. E nem por isso eu vou falar, porque não me apetece essa extrapolação de bem querer, porque arde no meu peito como dor. E em todas as vezes me resta apenas escrever aqui, para deixar de doer, para esquecer que o passado não leva apenas o tempo, mas também vai escondendo aos poucos a lembrança dos melhores momentos. Meu peito dolorido ainda grita que o amor vai durar, permanecer por toda eternidade, não importando a tua distância, a pele que te tocas, o passado que não te permites lembrar, ainda assim, eu vou amar-te, unicamente, e com toda a verdade que existir em meu coração. Porque ao fundo do meu fardo eu sempre desembarco no mesmo porto, no teu enlace. 

Eu sei, hoje não é dia de recordar. Mas sei lá ... deixei minhas responsabilidades um pouco de lado, porque meu pensamento resolveu ficar atado aos nossos velhos retalhos. É difícil, mas também foi preciso vir aqui, colocar para fora o que tanto enlouquece por dentro. Dentro de um peito que não pode permanecer sem o lugar ao qual pertence, e que se permite ficar esperando o momento certo de estar lá, ao teu lado. No entanto, sinto que não pertenço ao momento, ao nosso acaso. E que o plano é não ter nada marcado na agenda do destino, afinal o adeus ficou entre nossos dedos, e me resta apenas escrever sobre nosso velho laço. 

“Não: é só saber
o que de ti afastas,
quando a noite implausível
te chama e te reduz.
É só ousares, de ti,
a pálida renúncia, a súbita agonia
em que afogas
o esplendor do dia,
o outro lado do querer,
estar, sentir ou adiar.
Não: nem olhar no vento,
perdido ou encerrado,
nem o esboço de um dedo
que se encaminha para ti.
Nem dor de amar, nem vergonha de pedir
o que sem sequer pedires
te é dado, ou, antes,
o que de ti for procurado
na curva que antecede o teu primeiro
não.”

(António Mega Ferreira)

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