Meu coração enviou uma carta

Meu coração me enviou uma carta, tão insensata que eu precisei interpretá-la. Descrevendo os desenhos que meus olhos não podiam explicar, e que calados permanecem até agora, por gritar demais em lágrimas o que não podiam entender. Acho que meus olhos ansiavam acordar minha alma pro recomeço, sentir tudo de uma forma nova e me submeter a essa aflição todo o tempo, sentindo o medo de falar alguma coisa errada e estragar tudo outra vez, assim como a luz em excesso estraga a foto é a incerteza em afagos violentos de deixar que a boca por si resolva o que o coração é incapaz.

São nesses momentos que eu penso mais forte em como sou, parece que tenho todas as forças suficientes pra me despedaçar como porcelana no chão, e quando mais penso, mais o pensamento se mantém em mim, criando uma certeza de que um instante não é apenas um instante dentro de um eu caótico, é uma infinidade de instantes diferentes. Um instante pode ser um milhão de coisas diferentes numa só, o eu que penso ser e o que acha que me controla, sem expectativas.  

Agora os instantes estão perdidos, não possuem motivos nem força, apenas o pensamento que impera quando fica vago demais e tudo volta um sorriso vago e fingido. Sinto apenas o mundo caindo aos pedaços e mesmo numa distância pequena o abismo fica grande demais diante do silêncio irrefletido, ignorante e cruel, um quieto inquietante, que nem chega perto da paz nem da calma. Uma flor, bela, passageira e vazia, como o silêncio que atiça minha imaginação.

Mesmo sabendo que cada momento dura exatamente o tempo certo pra ser presente e ao mesmo tempo virar passado, sem deixar de ser os dois ao mesmo tempo, o suficiente de um piscar de olhos num tempo repetido das mesmas batidas mudando tudo completamente; às vezes eu fico circundando os segundos um após o outro, fixada no movimento horário e crescente que acaba sempre em zero, que quando deixamos o vilão e o moçinho brigar por dentro pra dizer quem está certo ou errado, entrando e conhecendo o   que teimamos em esconder de nós mesmos, tornamo-nos vulneráveis. É assim que me pego sorrindo desesperadamente sozinha, como se eu tivesse um segredo tão perceptível, mas indecifrável. Talvez eu o tenha, mas ainda não revelei a mim mesma.

A estrada que deixo pra trás é um mistério, pra os outros; só desconheço os pontos em que me auto-engano pra não sofrer, uma defesa incontrolável, que toda vez deixa-me presa no meu mundo quando não existem mais certezas, porque o desconhecer tira todas as certezas e as deixa suspensas.  É como a própria essência do ser, se esconde no interior, e só quem consegue chegar ao interior e enxergar é que saberá o que ali está gravado na ausência aparente, que nada mais é a casca do que se sente.

A necessidade de desaparecer, a distância que se quer manter sobre si mesmo. Gritar por um coração dormente, pra não sentir o poder de um olhar que e te desarma de suas próprias defesas. Ao mesmo tempo, a necessidade de voar, um vôo emocionante e com um fim trágico, porque a gente vive a vida toda esperando por um momento que faça todo o resto valer à pena, e que se esconde na covardia de não suportar que acabou achando que é coragem desistir. O fio que separa a coragem da covardia é tão pequeno quanto o que separa o amor do ódio, a gente às vezes confunde por achar a mais o que não é tanto assim.

De qualquer forma, sempre haverá muito nas poucas entrelinhas, um muito que é pouco, mas o suficiente pra ser um pouco de veneno e de tudo o que a gente não vê e sente. É como pagar ao tempo pra ele acelerar quando queremos tudo parado por achar que o amor é pura conveniência. Nada machuca quando não há confusão entre a ilusão e a realidade, mas tem momentos que não existem escolhas, tudo se move tão rápido que apenas queremos um botão de pausa, mas no fim, parados, o tamanho da devastação é a única coisa que vemos diante dos mesmos olhos, os que lêem estas palavras e os que escrevem estas palavras. 


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