Sob o penhasco

Eu sempre olhei pra o mundo como se estivesse na ponta de um penhasco, e que num tropeço qualquer que eu pudesse ter, eu perderia o melhor de mim. Foi assim que eu descobri a sensação de pular do abismo. Desde então, eu pulo e sinto aquele frio na barriga incontrolável. E é tão bom.
Pra começo de conversa, esse papo de “errar é humano” é conversa fiada de ladrão de esquina ( fail ). Na minha filosofia de vida, depende muito de quem erra e do erro. Existem erros que não merecem nem sequer perdão. O silêncio vale mais. Mas errar tentando acertar é perdoável. Por isso eu pulo do penhasco, por isso eu tento nadar no ar, o ar que não se toca, o ar que se sente, o ar que simplesmente ninguém pode controlar.
É tão complexa toda essa rede de sentimentos e frustrações que envolvem uma pessoa. Um dia ela apenas diz que “amanhã vai chegar”, anos depois, “queria voltar no tempo”. E assim ninguém nunca se entende, nada continua igual e ao mesmo tempo tudo permanece exatamente com a mesma essência ( acho que deve ser essa tal de alma ). Essa mesma alma que quer se libertar sem precisar sair do corpo, quer morrer, mas morrer de amor. Quer sentir.
Não sei vocês, mas às vezes tenho a sensação de ter mudado de alma durante o decorrer da minha vida, porque olho pra trás e não me reconheço.  E em algum ponto eu sei que ainda existe algum pedaço daquela menina de antes, mas parece que esse pedaço fica tão escondido que jamais ninguém notaria. Penso que quando essa menina quer mostrar ao mundo que ainda existe, ela pula do penhasco outra vez, ela revive e mostra que vai existir sempre.
Acho que é o tempo que acaba escondendo a gente de nós mesmos dentro do mesmo ser modificado. Essa pontualidade das horas me tira a paciência. A gente cede uma vez, depois de um tempo é que notamos que de tanto ceder ao tempo o perdemos de vista. Deve ser nesses perdidos que a gente se encontra, e aí aprendemos que pular do penhasco é só a primeira parte, com o tempo fica fácil fazer acrobacias pelo vento ( tempo ). Inclusive, pra deixar aqui registrado, esse tal de tempo parece que adora rir da nossa cara, pense “num abençoado”. Ele é tão certinho que chega até a desesperar.
Pare pra pensar na ambição que a gente tem quando ficamos cara a cara do abismo, a necessidade de sentir o chão correr mais rápido que os pés. Nesse momento, quando encontramo-nos ali prestes a cair céu abaixo, não só nossa história – a minha e a de todos envolvidos – começa a mudar, ela passa a fazer sentido, passa a fazer parte de nós. E eu o sei, que por mais escrupuloso que possa parecer, é impossível descrever, ainda não inventaram algo tão, tãooo ... tãooooooo NOSSO.
Pois é, com você eu aprendi a pular de um penhasco e me sentir segura. Isso parece até mais do que perfeito. 

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