Os olhos


‘Como fui parar aqui? O que se passa? Você? Oh meu Deus?!’ Era tudo o que eu pensava.

Eu poderia ter gritado. Eu poderia ter lutado. Mas nada fiz. Eu só fiquei ali, e deixei acontecer, observando tudo isso se depositar sobre mim. Feito poeira. E por quê? Pra que? De nada adiantou.

Eu olhei para aqueles olhos que falavam intensamente, gritavam. Deixavam-se transparecer. Amarelos, doentios. Quase mortos. E, de perto, brilhavam com cada tom de dourado e caramelo. Sedentos.

Eu não queria que ele desviasse o olhar por um momento se quer, e ele não o fez. Tentei me esticar e o tocar, mas minhas mãos ficaram colocadas contra meu peito, meus braços congelados em meu corpo. Eu não sentia mais o corpo mexer.  Eu não conseguia me lembrar dos movimentos. Só sentia aqueles olhos.

    Então ele se foi. E eu fiquei sem aqueles olhos. Aqueles olhos que me conheciam tão bem. Sem ele, todos os outros se aproximaram. Tomaram a distância como ponto equivocado. E se aproximaram. Sensação sufocante.

Algo parecia se agitar no meu peito. Não havia mais nenhum raio de sol; não havia luz. Nada!

 Eu estava morrendo. Eu não conseguia lembrar como o céu parecia. Eu não lembrava muita coisa. Mas eu não morri. Eu estava perdida num mar de frio, e então renasci num mundo de calor. E me lembro disso: dos seus olhos amarelos. Eu pensei que nunca mais os veria.

Comentários

  1. "I'm not happy like I used to be
    But see loneliness has got the best of me"

    O coração não se engana e não muda de opinião.

    ResponderExcluir
  2. O coração se engana, e não é uma só vez, às vezes ele se engana todas as vezes.

    Já estive assim, já fui assim. A solidão nem sempre é boa, mas tem melhores frutos quase sempre né?!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

I'm miss your touch - Emily Browning

A vergonha

Indignada...