"A gente se entrega nas menores coisas."





 “Tu é diferente. Não é só diferente da maioria, é diferente de todos.”

Eu nunca tinha visto um olhar pra dentro, aquele meio fixo que parece se observar adentro, que complica a alma, que vai tão profundamente como se a alma tivesse uma extensão infinita. Olhei fixo, me perdi na extensão daqueles olhos que se contemplavam, pareciam se conhecer e se desconhecer tanto. Eu jamais entenderia aquilo que estava a concluir, pareciam discordar e concordar numa velocidade que me agitava também. O que me restava era tentar da forma mais suave possível deixar que aquela impressão tomasse conta, mesmo daquele jeito meio escorregadio que tudo estava se encaixando, um doce que parecia tão amargo às vezes.

O que eu posso te dizer era que aquele mistério me inundava por inteiro, e me fazia não saber mais no que pensar, era uma sensação assim como as outras, mas era irracional, não fazia sentido algum. Tudo o que estava claramente desvendado era que me apetecia aquela brutalidade de sensações, e que eu já não podia controlar. Aqueles olhos que se olhavam pra dentro me desafiava ao mesmo tempo em que ignorava, era de uma atrevida maestria que me hipnotizavam. Quando percebi, já era tarde demais, eu estava bem além dos meus limites. De quem eram aqueles olhos? Quem eu era agora? Descobri, assim, não mais que de repente, afastando um pouco o foco dos meus olhos. Permiti-me a algo tão superficial a primeira vista, mas que na realidade era tão profundo que eu já nem sabia mais qual a superfície ou profundidade estava, então disse para mim mesmo, “não te deixas afogar em águas que nem te cobrem o pé”. Mas quem disse que sou obediente? 

Ela era toda pequena, apenas os cabelos pareciam decair numa lonjura de cabeça a cintura. Ela era diferente, parecia pequena, mas por dentro, por aqueles olhos, ela se agigantava. E coitado de quem fosse atrevido igualmente a mim. Era preciso estar preparado, era tanta palavra, mil vagalumes, cem pipas e todas as suas cores, havia vida nas notas, e o que mais existia parecia criar cor e da imaginação parecia existir em dimensões que a física não podia explicar.

O meu coração disparou, meio profundo, um tanto dolorido como quando algo inesperado toma conta dele, parecia à dor de quem diz “cuidado com o que descobre, não deixe seu coração tão vulnerável assim”. Pareceu soar triste, desalentado, mas antes aquela dor não houvesse dito tantas verdades. O coração doía a dor de querer doer em outro alguém, como se já estivesse exausto em suportar a distância daqueles olhos.

Sentei na poltrona, espiei qualquer coisa que não fossem aqueles olhos. Mas aqueles olhos apesar de pertencerem à outra pessoa, pareciam tão meus, e se repetiam diante de mim, me faziam não enxergar o resto, não cabia mais em meu olhar qualquer outra coisa, extravasava de mim tantas sensações de uma só vez. Tudo o que eu tinha em mente era que eu queria aqueles olhos para mim. Porque eram dela, mas eram meus. Eu os tomei pra mim quando me atrevi a olha-los também por dentro.

“Porque o coração nem sempre é mocinho. Foi por isso que corri, tentei fugir, mas quando tem que ser, não adianta, será.

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