"Mas há sempre um pouco de razão na loucura."

Prologo... 
“Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...


Deitado na grama olhando uma lua que clareava o céu com uma beleza estranha. Sentiu passos aproximarem. Os olhos escorregaram diretos pra aqueles pequenos olhos escuros e cabelos ondulados.

Sentiu os lábios involuntariamente sorrirem, e ainda desconhecendo aquela moça de pele clara. Ela tinha uma doçura, uma delicadeza que ansiava por força. No entanto, algo parecia não estar tão claro como a pele dela, os olhos pareciam esconder detalhes que pareciam cicatrizes profundas.

A forma arredondada do rosto um pouco magro, as curvas do corpo, ou o sorriso mesclado com os olhos que apontavam para a mesma lua que ele estava anteriormente a olhar. Tudo seduzia até os pensamentos mais solitários dele.

Quando os olhos dela caíram em direção dos dele, ainda deitado na grama, travaram-se duas guerras interpessoais. Olhares que combinavam, mas não podiam se aproximar.

Ela deixou um sorriso de canto de boca escapar, enquanto os olhos dele inquietamente a observavam. O coração de ambos pareciam não caber dentro do peito, deixando a respiração difícil. Os lábios dela se moveram suavemente, em tom gentil lhe dirigiu a palavra.

- Oi?

O corpo dele deixou-se sentar na grama, os olhos aumentaram e fixaram ainda mais nos dela. A ansiedade invadiu completamente. Desprevenido, permitiu um sorriso expandir o semblante e murmurou:
- Olá, e obrigado.

- Por que? – Perguntou sem compreender absolutamente nada.

- Por me trazer de volta!

A conversa ficou nesse sorriso, na pequena frase. Ele levantou ainda com o sorriso nos lábios, inclinou um pouco o rosto e se despediu. A alegria de ser ele novamente, de estar consigo mesmo, de saber que ela estava lá, o fez alarmar a ânsia do amor.


Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?


Maurício Andrade deixou sua voz ressoar, como sempre enquanto discursava. Tentando pegar por reflexo a atenção dos demais.

“Por antipatia natural, permanecer inquieto era o que se tinha a fazer... Mas não o fez.”

- Senhorita? – Parou o discurso pra chamar a atenção.

Todos os olhares se voltaram para ela, moça do cabelo ondulado e para os dedos finos e longos que se apressaram em parar de escrever. Os olhares ainda atentos revogaram, redirecionaram-se para Maurício. O semblante dele modificou, pareceu inquietar-se. Os traços fortes se açambarcavam diante da peculiaridade da situação. Ficou um pouco sério e com a calma um tanto comprometida.

No ombro esquerdo da moça surgiu um toque delicado. Olhou, um tanto surpresa, para uma moça loira de cabelos lisos. Ela sorriu e direcionou um olhar para abrandar tamanha aflição entre ambos.

Ela lentamente acompanhou o olhar da loira, deparando com o olhar do Maurício ainda sério, olhos azuis penetrantes.

- Senhorita Lavínia? Se disponha a comentar alguma coisa? – Sua voz pareceu devolver uma serenidade a situação.

Todos ficaram um tanto inquietos com aquela situação. Ninguém fazia a menor ideia do que havia acontecido com o Maurício.

Lavínia sustentou todo o peso da cabeça para trás, levantou um pouco, ameaçou dizer alguma palavra, no entanto tornou a aquietar-se enquanto fitava os olhos azuis.

- Não tem nada pra falar ou não quer? – alterou um pouco a tonalidade da voz.

As risadas abafadas tomaram conta do local. Todos os olhos, mais uma vez, recaíram sobre a pálida moça. A pele mudou automaticamente de cor, ganhou um rubor. Os olhos apesar de intimidados, fitaram-no com mais vida.

O rapaz se aproximou um pouco mais, e de certa forma tornaram os espaços lacrados para os demais que nada compreendiam.

- Você tem uma mania chata de ficar no seu mundinho paralelo, trancada. Poderia ao menos fazer a gentileza de responder quando se direcionam a ti?!

Delicadamente os olhos fixaram com um ar ansioso. Ela se virou completamente e com a cabeça erguida em tonalidade irônica, respondeu detalhadamente enquanto gesticulava as mãos delicadas. Quando finalizou, lançou um sorriso sarcástico, suspirou. Ele levantou uma das sobrancelhas sem perceber, deu a volta e apoiou uma das mãos na mesa de madeira na frente com o punho fechado. Ela simplesmente sentou, olhou de relance para a mão na mesa, voltou o olhar pra si e aquietou-se, voltou a fazer o que era mestre ... ficar com o pensamento absorto.

- Lavínia? – A voz do Maurício voltou a interromper o silêncio pessoal dela.

Ela invariavelmente olhou e já respondeu:
- Mas o que foi que eu fiz agora? – A face corou.

- Não, você não fez nada. – Respondeu.

Sem entender nada, sentiu o rosto queimar de uma forma diferente, e então um sorriso saiu espontaneamente. Não um sorriso comum, mas um sorriso pequeno, que nem marcavam as covinhas e nem deixavam os dentes tão visíveis. Ela baixa o olhar pra não encarar aqueles olhos azuis. Mordeu o lábio inferior.

- Acho que podemos conversar sem tanta dificuldade, sem sarcasmos! – Disse o Maurício tentando acalmar a situação.

Uma voz interrompe aquela troca de palavras.

- Vocês dois não acham que poderíamos terminar a reunião primeiro e depois vocês conversam?

- Ahh não. - Todos reclamam.

- Deixa de ser estraga prazer, só porque agora a gente saberia o que ia acontecer? – Uma quarta voz intercede.

- Muito bem, eu acho que é melhor mesmo continuar. Mas, se vocês querem mesmo minha opinião, eu estou contra as opções de vocês todos. Procurem outra cabeça para explorar. E quanto a você Lavínia, te encontro mais tarde no Tunds?

O olhar dela estremeceu.

- Sim. – Respondeu com a voz quase desaparecendo.

“Lamentar uma dor passada, no presente,
é criar outra dor e sofrer novamente.




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