"Reconhecer suas próprias limitações é o primeiro passo para vencê-las. Ao mentir sobre elas para os outros, você assume para si mesmo sua incapacidade de lidar com as dificuldades internas. A perfeição não me interessa, mas me interessa evoluir."


"Existe o meu espaço. Existe o seu espaço e existe o NOSSO espaço. Quem não sabe discernir os limites está fadado a se fuder muito na vida."

Plena sexta feira, igual às outras tantas que eu já tenho vivenciado. Recebi uma não resposta. Um silêncio daqueles que atravessam porta adentro do coração e machucam as vísceras da alma que estejam por lá. As reticências falavam de palavras que eu não achava ser capaz de dizer e, nesse momento em diante, começaram a se edificar. Eu deixei aquilo me dominar porque, por algum motivo pareciam ser frases dolorosamente sinceras. Isso era um descontentamento.

Eu era cega. Aprendi levando tapa na cara, com situações nada agradáveis. Até então, eu vivia no meu mundo, entre as quatro paredes que me protegiam de tantas verdades. E, se alguém que não sentia o mundo, sendo sensível, passou a sentir, a arder, queimar. Destroçar. Aquela sensibilidade me permitia ler aos outros, mas não me deixava seguir como tais. A grande realidade é que meu mundo tornara-se pequeno demais, eu havia permeado por entre os limites dos meus próprios muros.

Eu até então nunca tinha parado pra notar que havia um mundo lá fora. Eu era a cega que enxergava. Hoje o meu texto é sobre esse mundo de fora. O mundo que eu não tinha conhecimento e o quis trazer pra dentro do meu próprio.

Comecei deixando em partes janelas abertas do meu muro. Fui olhando por entre as frestas. Sabe quando somos crianças e estamos descobrindo coisas novas? Era assim que eu me sentia, descobrindo uma realidade nova.

Como é viver assim, livre? Ter limites é não ter limite?

Meu/minha caro(a) leitor(a), viver exposto ao mundo é como expandir a si mesmo. Não é colocar tudo dentro de si, mas ser parte do todo. É uma busca pela intimidade própria com tudo o que está ao redor. Você deixa de ser um meio pedaço e passa a ficar completamente disperso. Pra quem está aqui de fora, o outro que já fica ao lado também é um só, e isso é dramaticamente engraçado. Conviver, convergir ao mesmo ponto e sorrir. O importante não é entender, mas vivenciar. Porque entender não significa compreender.

Algum tempo atrás eu estava cá no meu mundo, quando alguém se atreveu a ultrapassar meus muros até chegar perto de mim. O mundo de fora invadiu meus limites. Quando se tem o mundo invadido é preciso se desdobrar pra não embaralhar-se demais. O que pode ser exposto ou absorvido é sempre muito complexo. É meio que ver-se cego. Tudo acontece numa rapidez diferente, não dá pra ver nada, nem saber o que acontece. Apenas se sente a diferença do antes e o depois.

O tempo transcorre suas histórias e você vai esquecendo-se dessa mudança. A mudança passa a fazer parte dos seus limites, das suas verdades. E assim, dessa forma a gente tem a sensação de saber dos próprios limites. A grande falha em achar que se tem limites é que o limite se impõe a cada mudança, a cada modificação do certo e errado que adquirimos. Após tantas invasões eu não tive a percepção de ter meus limites modificados, mas a me ver saindo do próprio mundo imaginário pra aquele mundo de fora, perdi completamente a ideia do que era Kaliany e do que não era. Dentro daqui que eu acreditava ser a mim, o antigo transformou-se.  

O curioso é justamente que seja alguém inverso aos meus paradigmas pessoais quem tenha atravessado as barreiras que eu criei.

O que havia de ser-me explicado era que o mundo era tão maior, os sentimentos eram tão mais imprecisos. Nós passamos além de papeis criados por nós mesmos e nos tornamos outros seres diferentes a cada nova mudança encarada. Há sempre várias formas de não enxergar. Não por ser cego de fato, mas por não enxergar o mundo do outro.

Quando eu acordei hoje cedo pela manhã eu percebi o mundo de quem divide tudo comigo, percebi que as cenas poderiam se repetir como sempre o fizeram. Eu chorei desconsoladamente. Não por esses limites me privarem de emoções, mas por saber o que vai acontecer logo em seguida. É seguramente chato.


Eu não quero ser segura em tudo, quero realmente experimentar as possibilidades que são impostas a cada vez que mergulho fora do meu mundo. Estar fechada aquilo que não é comum pra nós mesmos é impossibilitar a alma de crescer.  Não sei o quanto meu universo se expandiu desde conhecer aquele que tem tentado de várias formas mudar minha vida, mas a diferença não está ainda no que eu posso fazer ou não, está em ter-me deixado menos cega. Menos presa. Mais disperso. 

“Você precisa confiar em si mesmo, ainda que todos duvidem, ainda que todos desdenhem, ainda que até a pessoa que você mais ama não seja capaz de confiar.

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