"Quer seja dia, quer faça treva, varre sem pena, leva adiante paz e sossego, leva contigo noturnas preces, presságios fúnebres, pávidos rostos só covardia."

“Deram-me o silêncio para eu guardar dentro de mim

A vida que não se troca por palavras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
As vozes que só em mim são verdadeiras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
A impossível palavra da verdade.”


Tem sábado que a gente acorda e quer sentir apenas o gosto do café goela abaixo. E ao mesmo tempo sente uma sede inesgotável de querer compreender tantos desfechos sem sentido que a vida nos fere como punhal. Porém, sem alivio, sabemos que ao fechar os olhos numa sexta feira qualquer, tudo o que deixamos para trás, cada centímetro de coração, fica intacto, onde sempre esteve, e aonde apetece ficar, o resto é mania de impossível, da ânsia de nossa incapacidade de ter algo além daquilo que não tem consistência e navega pela escuridão.

Por intermédio de tantos desentendimentos, a gente acaba por fazer o impensado, e não calcula o tamanho do estrago das ações para satisfazer nosso ego. Eu realmente gostaria que a dor que sinto em meu peito estivesse remoendo até os ossos e alma daquele quem é responsável pelas palavras não pensadas. Aquilo que fazemos como resposta é uma força, e toda força tem uma contrária. É como bater numa pedra, e quem mais fica ferido é aquele quem iniciou. É assim na natureza, e igualmente entre a vida. Tudo coexiste. 

É muito confuso as relações entre pessoas, a gente tenta fazer o bem, mas a naturalidade brutal da resposta é sempre da pior espécie, a gente sente vontade de devolver ao outro aquilo que concluímos que é maldade, mas será que estamos certos? Será que aquilo que enxergamos no outro de fato condiz com a realidade? É melhor repensarmos, será que a ação do outro de fato é o motivo da nossa raiva, ou sentimos tanto ódio daquilo que não podemos mudar (ou não queremos) que acabamos por descontar no outro? 

Eu não tenho certeza de nada na vida (apenas da morte e de algumas pequenas coisas), mas posso dizer com tamanha sinceridade, a verdade é algo que não escapa do fio do destino. Aquilo que é predestinado para alguém, será com toda fidedignidade a sina vivida até o fim dos dias. Enquanto ficarmos cegos, seremos massacrados pela vida. 

Sejamos menos incertos mesmo, sejamos similares a vida. Aguardemos os segundos nos carregarem até que não sejamos mais capazes de dar passo algum, e assim capazes de sentir velocidade exata daquilo que passa e não volta mais, estaremos prontos para vivenciar o culminar das coisas naõ palpáveis (coração), com o desfecho exato. Nesse dia, a dor dos imaturos de amor será maior que a própria alma ao se defrontar com as próprias ações. Quando enfim nos acharmos na dor, nada do que deixamos para trás ficarão como antes, para essas coisas não palpáveis apetece um novo lugar, uma nova visão. Quanto ao lugar, eu não sei qual, aonde, como e quando. Sei que estarei observando. 

Quanto a mim, ainda terei meu deleite de fechar os olhos na sexta feira, e me embriagar no descanço daquilo que me apetece. E sentirei o fardo do tempo passar, me levar e ensinar aos poucos que a vida é sempre passagem. Vou saborear mais um café quente, olhar pela janela o dia recomeçando, sentindo o vento vagando, enquanto tudo condiz, e eu me encanto com essa pequena passagem. 

“Deram-me o silêncio como uma palavra impossível,
Nua e clara como o fulgor duma lâmina invencível,
Para eu guardar dentro de mim,
Para eu ignorar dentro de mim
A única palavra sem disfarce -
A Palavra que nunca se profere.”

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