O retrato das sensações



Estou trabalhando em alguns poucos planos, mas pensando sempre numa mesma direção. Esforço-me da forma que eu possa manter meus pés no chão, e nesses dias que as coisas parecem ficar mais paradas, mantenho os pulsos firmes e olhos atentos. De fato, é preciso observar cuidadosamente o que se passa ao redor, porque nem sempre se espera o que vem pela frente, mas podemos nos preparar contra as surpresas. Há tanta beleza escondida num espinho que a gente se apega a flor e até se permite machucar pelo espinho. Há sensações esmaecidas da estranheza do destino que pra entender, é necessário ser como um completo estranho de si mesmo.

Não me refiro como alguém que se encontra na rua ao lado, mas não deixo de ser facilmente achada. Ainda assim, sou complexa, e observo todos os passos até mim. Porque meus olhos não se encantam com a simplicidade, eu gosto do que cruza meu caminho e se deixa ir. Que importa? Na verdade a mera coincidência é que todos estão à mercê das sensações e os seus respectivos resultados. Eu particularmente gosto das emoções fortes, por isso sou tão ridiculamente cheia de pecados. Creio na suposição de que as sensações são sempre o princípio de alguma coisa boa ou ruim. Cabe a quem sente escolher entre o pecado ou contrair-se do “e se...”. Convém nesse momento estranho deixar o pensamento superar a beleza da situação, portanto, que seja exagerado o sentir, e que dure o tempo exato pra ser inesquecível. Assim, posso afirmar que o pecado é bom o suficiente pra se permitir vir à existência.

Haverá um dia que das sensações, o cansaço será superior a todas as outras. Sempre tem um dia que tudo parece ter ido pelo lado avesso a nossa vontade. Por dentro isso vai parecer doer mais do que realmente espera, e então, esses pensamentos vão quase te enlouquecer, isso não sendo o suficiente, vai haver a indiferença pra os acontecimentos que prosseguirão teus passos. Nesse momento vai dar-se conta do quão retardado fostes nas escolhas, e na inconstância do momento vai sentir ecoar pra fora do próprio tronco um grito mudo de quem realmente se convence de que perdeu tudo. Satisfazendo a própria alma na tentativa de não sentir, por estar demasiadamente estafado de sensações.

Das palavras expostas, me coloco como tinta. Agora já estragada, velha, acabrunhada. A arte que me acresce por dentro foi marcada pelo tom obscuro dos acontecimentos. Não me coloco como coitada, mas é doloroso descobrir que o nosso maior encanto é uma farsa. Parece que a vida quer ser indelicada, e aos poucos coloco a perguntar-me se devo somente virar as costas e partir. Mas pra ser complacente com o destino, como prometido as minhas dores, darei as costas. A insistência em suportar já não faz parte da dedicação da minha alma daqui em diante. 

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