Lamúria




Ao Bernardo, Tonha, Maria, Fátima, Jurema e quem mais tiver nome nesse mundão de Deus
Hoje, seis de maio, nesse quarto amargo,
A sete palmos acima do chão ainda permaneço,
Se nenhum pingo de água cair,
É que hoje sou mais fria que ontem,
E o céu menos nublado.
Enquanto escrever essas linhas,
Não haverá recordações mais sombrias
Como as quando silenciar minha voz.

Embriagada de tantos pensamentos vis,
Que ao fim das humildes reticências haja o inicio de um novo parágrafo frágil
Mas que eu emudeça de ti!
Tu que já não vejo,
Talvez a verdade seja que tu não és pra mim
E eu não seja pra ti.

Se ainda lamento, é porque minha fúria ainda não confinou.
Sedenta de jogar meus prantos
Sou as palavras que o mundo posterga.
Os olhos que recebem o não
São os mesmos que sustentam a afirmativa contraditória.
Mas se me encontrares perdida por aí,
Não se engane,
Sou uma moça de fatos vis.
Carrego por dentro tantas mágoas de ti.

Mato-te com palavras venenosas e doces,
E o fim será lento e doloroso como o nosso destino.
E nenhuma angústia vai me atormentar mais,
Se de tudo o que sobrou tu tens somente cinzas
Fui tuas bases,
E ainda assim me deixei queimar junto a ti.

Das nossas pausas, reticências e silêncios,
Quero o dilúvio do ultimo dia
Meu choro compulsivo atravessando meu olhar
Do nosso céu e o inferno só anjos
Enganosos como tuas juras
E no fim como uma louca sem aviso
Vou engolir o destino a seco
Garganta abaixo sem direito a petisco.
E da minha tristeza, levo a sorte de quem não tem coração pra dar,
Não tem chama que incendei, nem ritmo que faz o corpo tremer.
Do fado nasceu esse caminho, e do espelho um reflexo
Quem lê retrato pintado pela imagem do outro lado
Sabe que a solidão de quem se engana deixa a alma toda doente.
E então se despede chorando como um desenho em papel molhado.
Ao Bernardo, Tonha, Maria, Fátima, Jurema e quem mais tiver nome, quero é que tudo se dane, eu só quero é viver. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

I'm miss your touch - Emily Browning

A vergonha

Indignada...