"De amor cantando, sem nele demasiado acreditar, dei a volta ao coração (demorei anos): está só - mas sem nenhuma vontade de parar..."
“Não iriam entender que vez em quando a gente fica triste sem
motivo, ou pior ainda, sem saber sequer se está mesmo triste.”
Das desventuras do fazer, mesmo em recusa, volto a escrever. Creio que por uma espécie de decreto
de fascínio da indecisão entre o querer e precisar. É que isso me causa a impressão
de proteção, ora me faz calmaria no meio da rebeldia interior, ora entorta meu
mundinho particular organizado. Então sozinha, diante dos meus pensamentos, volto
aqui, nos escombros da minha solidão proposital, agitando minhas sinapses, para
colocar fim nos motivos que eu mesma fui capaz de inventar. E porque inventar?
Por inquietação do
pensamento, por auto persuasão a apreciar o que fica entre sublime e
doloroso, foi assim que precisei da solidão, ou melhor escolhi. E quem poderia questionar minha introspecção se
assim, a beira de um abismo, em meros devaneios formulados pela minha mente
barulhenta, eu apenas queria sentir alguma paz. Eu, sendo alguém que mantém
pequenas imposturas, pra não parecer ser uma perda, ou talvez a culpa de um
delito a normalidade comum.
Nessa minha solidão imposta por
vontade, surgiu, expôs, transpareceu, então, meu velho olhar, incompreendido,
mas que grita, reivindica, o falso controle impossível de conseguir ter em
mãos. Eu que já não tenho motivos pra reclamar, de ti, de mim, dos outros, de
quem quer que eu seja, de quem quer que sejam os outros tantos por aí. Essa menina, que já
virou bicho, já foi mendigo, já foi a pior escória imaginada, já não sabe qual
o sentido final. Já não se encontra mais nela, porque está na pele, no olhar, no fio do cabelo. Estampado. Então, que surjam os gritos ... o espetáculo começou.
Extra. Extra. Vejam. Observem. Reparem. Repare. Sim, você. Só você.
Repara agora, repara
minha solidão, meu estado de alma tão quieto e manso. Repara a tonalidade
pálida da minha pele que se esconde por baixo do casaco velho. Sente o meu ser
sendo a mim, e eu sendo pedacinhos, modificados, tristes, felizes, atordoados.
Repare a linha delimitando minhas curvas, e talvez você perceba minha alma à
flor da pele. Repare, a minha velocidade é interna, e externamente sou mera
coadjuvante. Repara a mim.
Enquanto suscita em
reparar-me, eu volto a me fechar, afundar-me na minha introspecção, nesse meio
espaço continuado que ninguém tem acesso, mas quero que você perceba em mim. E acordada estarei com o pensamento repleto de ti. Sim, complementando. Como em tantas vezes que num mesmo minuto
eu te perdi, eu te ganhei, eu te perdi novamente. Ainda que tenha te perdido,
eu te encontrei. Uma. Duas. Três. Mil vezes. Agora, no meio da madrugada, com a
tua respiração longa, ao meu lado, como se não fosse muito, meus sentidos,
viram realidade, viram sonho. E ninguém pode julgar a minha introspecção ébria de ti.
“Que continue sendo doce o seu modo de demonstrar afeto , o
seu jeito , seus olhares , seus receios . . . Que doce seja uma ausência do
nosso medo , o seu abraço e a maneira como segura minha mão . Que seja doce ,
que sejamos doce e seremos , eu sei . . .”
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