"Para isso serve a utopia ... para eu seguir caminhando"

“Dono de nada, dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a contravento, e sou o vento que bate em minha cara.”


Quem poderia entender que quando a gente conhece alguém, e nos olhos do outro se reconhece, sente mais profundo até o que não vê, não sabe, nem imagina; esse alguém é simplesmente teu outro lado que não pode te pertencer. Se ao toque dos dedos, cada nota, ressoando com aquela voz envolvendo, na tentativa de alcançar o que encanta, entre um espaço longínquo qualquer, que nunca termina, na ponta daquele sorriso, vira continuação. Sendo eu, o outro lado inquieto, a procura do complemento, apeteceu transformar-me numa extensão.

Então, tua mão procurando a minha, em gestos complementares, de forma automática, assim sem saber, de leve, enquanto teus olhos tocam a pele do meu rosto claro. Seu olhar se encontra em mim, às vezes, e eu finjo que não percebo. Às vezes você finge que acredita que eu não percebo. Às vezes você sorri de macinho, só pra eu saber que não consegui fingir meu falso ar cego.

Os dias são assim, ainda que meu sentimento não tenha tamanho suficiente pra ficar dentro da alma, secretamente, cabe em nós. Cabe na minha lágrima. Cabe nos nossos olhos. Mesmo que ninguém possa entender. E quem se importa se eu acho que já sei, se você também sabe que eu acho tanta coisa. O que importa é que o mesmo olhar que brilhava com um tom meio bobo olhando pra mim, o mesmo sorriso que por vezes era sério, ainda estremece a me ver de longe olhando. O eventual dono de todas as minhas horas e pensamentos (e olha que são muitos - E até quem me vê lendo o jornal. Na fila do pão, sabe que eu te encontrei”) ainda é o mesmo, é o mesmo argumento, que na ponta dos meus dedos, nas notas que eu descubro, aqui, a falta que me cega, o amor que me consome, são pelos mesmos olhos de outrora.

Enquanto o tempo consome minha vida, me mantenho de pé, desperta, ainda te observando, na minha lenta calma. Meus olhos avistam profundamente, cá dentro. Para adiante das minhas ilusões, mais profundo que a minha realidade. Antes que o fio da minha poesia desconexa termine, nessa confusão interna que permanece dia após dia, me deslumbre de tua atenção indecifrável, na cor, do toque, na pele, em breves momentos, que o tempo comece e acabe sempre em ti. Mais uma vez. Enquanto o pra sempre tiver replay.


“E invento o mundo em aquarelas de cor e vento com sabor a sal. Gotas de chuva misturadas com o teu suor no rosto em fotos "à la minute". Não tenho ilusões, mas vontade de ti, e tantas vezes tão só, que tenho saudades de mim. Falo redundâncias e escrevo este texto sem selo nem remetente. Apeteces-me como nunca, nas formas e aromas dissolvidos em beijos nos teus músculos cansados de leituras noturnas e sonetos de Chopin. Um dia, beijo-te no meio de uma frase... O resto é contigo! (Victor Barbosa)


Comentários

  1. Muito apaixonado e cheio de desejo o texto. Infelizmente a vida não é como nós esperamos, seria muito bom e utópico se todas as nossas vontades dessem certo.

    Um abraço!
    Um guarda-livros

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    Respostas
    1. Mas a vida é como deve ser, esperar a mais não significa que apetece acontecer. Da utopia para a realidade ... sonhar não custa nada?!

      Abraços ... ;*

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