"O que venço me vence, se não concentro o peso. Desgravito o vínculo dos meses, elimino a raiz quadrada do que morro."
“Paga-se a vida tão caro,
mas viver não nos derrota,
deslumbra. Estando certo
de que o tempo terá como
e onde ficar: no entressono.
E não sou mais estrangeiro.
Deus concedeu esta graça
de permitir que mais velho,
por tanto errar, possa ao menos
contemplar que sou eterno.”
mas viver não nos derrota,
deslumbra. Estando certo
de que o tempo terá como
e onde ficar: no entressono.
E não sou mais estrangeiro.
Deus concedeu esta graça
de permitir que mais velho,
por tanto errar, possa ao menos
contemplar que sou eterno.”
Sempre haverá um dia
certo para aquilo que há de ser/existir. E nada vai ser ao acaso, muito menos
fácil de prever. Afinal, cada qual tem um caminho, e o descaminho pode ser o
perder-se ou encontra-se. É tudo questão de ótica, daquilo que reflete e de
onde se encontra o enxergar. Talvez ela fosse assim, e assim buscava seu
caminho, o lugar ao mundo, e entendia os descaminhos dos outros como se fossem
os próprios. E assim continuava a viver, lutando a cada dia por aquilo que
acreditava.
Antes, mais crença, e
hoje peleja, aflição, um toque menos delicado com aquilo que outrora havia sido
importante. Aos poucos a vida se confrontava e conformava em uma nova forma, um
início menos doce, mas acautelado. Os dias passavam, e aos trancos e barrancos,
buscava o que havia de ser, o que melhor havia de si, de expor para fora o que
nem todos eram capazes de entender.
Descaminhando, encontrou
os entremeios para aconchegar-se na própria forma de “ter-se”. Buscava a todo
instante, incessantemente, um modo de se achar sem sequer se perder, como quem
dança já sabendo os passos, mas tem medo de pisar em falso e cair, porque afinal,
não é todo condutor que saberia conduzi-la.
Buscando a si, querendo a
si mais do que nunca, ser apenas uma figura exposta, apenas fora capaz de se
reconhecer em um momento único. Reconheceu a si, e percebera uma necessidade de
que era implícita, para chegar até si, era preciso ir além, ir ao outro, aos
mundos que não haviam limites, eram nos outros que ela se encontraria.
Quando finalmente
conseguisse entender o outro, estaria plena, seria a si mesma, e a salvo de si.
Era o fim do caminho. E ainda assim não estaria ao final de si, era preciso
vivenciar, e sentir-se viva, e só assim, haveria de ser a si, como qualquer
outro e sem deixar de ser a si mesma. Entendam bem, não é o descaminho que a
mudava, era a mudança que gerava o descaminho, o conhecer e modificar era
resultado e não início. A vida a levava para outro estado, um estado de
modificação ao estar vivenciando alguém que lhe moldava a textura, a doçura, a
vontade de viver. Mas é como ela mesma sempre se descrevera:
“Sou desenho rabiscado de
5 minutos, posso ter a forma toda retocada e quem sabe ao final do dia seja um
quadro colorido ou fotografia. Sou arte, sou de acordo com o artista e não com
a prisão de arte que o artista se impõe”.
E assim ela se deixava
delinear pelo contexto, pelas expressões, por aquilo que vinha feito vento na
parede, e desfocando tomava novo rumo. Era clara, abandonava-se na crença em
que a custo acreditava ser a si mesma. Na segurança de si, ao dar-se ao mundo, delicadamente
achava-se presa ao instante, e aquilo que era prosa, virava descaso,
desequilibrava o recomeço pela força necessária.
Percebera por fim que a
vida sempre quer um tempo para respirar, recomeçar a si, afinal se refazer sem
recuperar um pouco daquilo que foi, é meio fatal e desconcertador. A vida
evolui, mas todas as etapas são sequenciadas, são sempre esperadas. Apressar
etapas sem ter preparação exclusiva pode ser um tanto perigoso, a gente arrisca
perder até aquilo que é nosso de nascença. Nossa identidade. E assim ela
precisava buscar o equilíbrio, afinal a vida é isso, vivenciar aquilo que vem
do mundo para nós e o que levamos para o mundo. Sendo uma ponte aquilo que
queremos, que exigimos e o que deixamos para trás, bem como as mudanças que
causamos.
"Há um outro por
fora,
que não segue
as regras da vida.
Ou que inventa
por fora sua norma
de altear-se.
e vazou, desprendeu
os limites. Não sobe.
Está preso.
A loucura,
seu único peso."
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