"Penso nos olhos, nas coisas que são efémeras, no teu amor. Os olhos comovidos, um azul qualquer que guarde ainda o céu sobre as nossas cabeças incendiadas."
“A parte indefinida do
meu ser
Ama a sombra espectral em que desvairas...
E nem, ao menos, posso compreender
Esta força amorosa que me leva
Para a tua loucura!"
Há
que existir algo de débil no amor. Afinal, é como condenar-se a dor, a demoras,
ao tempo, e mesmo quando o tempo finge estar ao lado, é quase certo que apesar
de que eu tenha toda a paciência do esperar-te, você já se foi sem que eu sequer tenha notado; e
quando me esperas, talvez eu já nem esteja distante do teu tempo que não tem compasso que se igualhe ao meu.
Não
existe outra maneira de explicar, é quase antiquado usar palavras pra
descrever, por que há algo de sensato em amar? Se eu esperei a vida toda por ti,
e ao certo eram teus olhos que faziam meus dias mais coloridos. Quando sentia
tua chegada ao toque da pele, o teu cheiro que ficava em mim, meu corpo a
tombar nos teus braços e o coração esperando um afago todo desacertado, igual
a cor das minhas maçãs do rosto que não sabiam guardar segredo. Quando tu
chegavas, morria a saudade para renascer outra maior.
Agora
estou cá, em algum lugar dentro de mim, aguardando sua volta, sem nada além das
memórias que invento para passar o tempo. Fecho mais uma vez os olhos, e
aguardo, quem sabe teus ponteiros acertam com os meus.
Mas
há algo de débil no amor. Eu sei disso. Sinto. Porque aqui estou eu,
envelhecida nas palavras, buscando teus lábios, teu corpo, teu cheiro em meu
corpo. E a noite, despida de vergonha, terei sido unicamente sua, sem o tempo
comandar, cada um na sua hora, que por hora, é um momento só.
[...]
como findaram os dedos que prenderam
o bordão de ternura
que tantos outros nos cortaram.
Tal qual o prédio caímos
e apenas o pó
desenha entre o que nem persigo
um resto que sabe que está só
porque nenhuma solidão vem ter consigo.
( joaquim
manuel magalhães)
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