Entre Lavínias

Agenor se deparou com todos os sentimentos se embargando, se debatendo dentro dele quando percebeu o ciúme corroer tudo o que havia por dentro. Quando adquiriu pra própria existência o querer egoísta de tê-la somente para ele.

Era desesperante imaginar que aquela mulher a qual se dedicara estava abdicando de tudo o que sentia por ele e se jogando de frente com passado. Isso causava tamanha fúria, e aos poucos matava o amor.  

O amor por mais forte que seja é também mortal. Um coração não cuidado e machucado não sobrevive na imortalidade do existir. É como veneno engolido em doses ínfimas, que aos poucos vai matando com um sintoma aqui e outro ali, deteriorando com o decorrer do aumento das doses, enquanto a alma julga ser capaz de se acostumar com o que está aos poucos matando.

Isso fora entorpecendo todos os sentidos de Agenor, e ele tentava compreender o que se passava ao redor, mas não era capaz. Lavínia era muito senhora de si, tinha uma desenvoltura que não era inteligível. E aos poucos, ambos, foram se afastando, criando uma barreira impossível de transpor.

Por não se entender a Lavínia se fechou, entrou a fundo nos ressentimentos que a fazia se auto depreciar diante do não compreender, do não poder escolher. Ela amava muito o Agenor, mas ela amava também o Vinicius. O sentimento por ambos eram diferentes, e não pareciam em nada. Então, as quatro Lavínias confusas batiam boca entre elas.


Dizia a Lavínia puritana: “tudo o que eu tenho feito até agora é lutar por aquilo que acredito!”
A Lavínia com um ar psicopata já retrucava: “você não fez nada, aliás, tudo o que faz é sofrer por entregar nosso coração. Quem te deu essa permissão?!”

A Lavínia mansa, feito pintura de cor doce como algodão, não aceitando tamanha injúria saiu do silêncio sendo discretamente contundente: “Que culpa é essa que você fala que não me apetece? Somos todas e nenhuma?”.

A Lavínia devassa toda lavada num atrevimento já alterou a voz: “eu não estou no meio dessa confusão de vocês, é tudo disparate! Quem manda você (direcionando pra Lavínia mansa) não saber juntar o coração e o corpo!”. Que respondeu com a voz já embargada de lágrimas: “Eu sei meus sentimentos, você é que não sabe controlar os teus desejos!”.

A devassa estava se divertindo como nunca. Sempre soubera dos seus ímpetos, de seus desejos, de suas vontades mais obscuras. Conhecia a si mesma, mas não conhecia o poder que as outras tinham sobre ela. Agora, diante de tamanha confusão, entre estar diante de quem reconhece todos os truques pra envolvê-la que a mesma deixa subentendido, e o que conhece todas as armas pra cuidar do coração dela; sentia-se impotente, e não tinha ideia de como fazer e o que fazer daquele momento em diante.

Por mais diferentes que fossem e tivessem contradições, uma coisa em comum elas tinham, o não saber quem escolher. Por isso sofriam, doía por dentro como se arranhasse até o ego mais equilibrado. Elas então deixavam que o destino caminhasse pelas pernas equivocadas sem tentar mudar a direção, e nada faziam além de esperar. 


Assim o pobre Agenor foi compondo-se de dor também, e de um endurecimento. Foi se deixando ficar cada vez mais longe e distante. E a Lavínia sentiu a distância. Sentiu uma saudade com gosto amargo; por saber que talvez a dor estivesse toda coberta de culpa. Mas ainda assim permaneceu a esperar um sei lá o que. 

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