Reencontro


Enquanto aproveitava um vinho, Lavínia se dava conta que parte dela havia morrido. E não soubera explicar o que havia causado seu fenecimento. A Lavínia atrevida, que o corpo era dono de parte de sua essência tinha se dissipado.  Estivera tanto tempo procurando pela conquista, por ter o desejo saciado, que se esquecera do depois. E agora, sem muitas respostas, simplesmente sabia que uma parte dela estava entregue as traças, e que aos poucos, estava morrendo.

As doses se avolumaram, e ela se voltou pra antigas questões, antigos papéis que tinham lembranças confusas. Percebera tamanha exaustão que obtivera por se importar tanto com o coração, e por isso, escolhera outro caminho. Mal se importava com o próprio sentimento durante tempos, como iria pensar no sentimento de outrem. E ainda assim, não querendo, não tentando pensar. Pensou. O coração se voltou contra ela, se repugnou, por nada mais saber de Agenor. Que desde a separação, sumira completamente. Nada chegava a ela sobre ele. E foi assim que a Lavínia meio doida surgiu do nada com a ideia de ir atrás do Agenor. Ela não sabia utilizar-se muito bem do bom senso e da força da compreensão do “nunca mais me procure”.

Entremeada de tanto medo da reação do Agenor, de não encontra-lo e tudo mais, foi lembrando momentos vividos, das pessoas e do homem mais importante. Usando toda a habilidade foi procurando pessoas que poderiam intermediá-los, e ficava cada vez mais feliz, pois, sempre conseguia uma pista ou rastro dele.

Depois de tanta procura, conseguiu reconhecer no meio de tantos rostos o de Agenor. Algumas rugas haviam aparecido, mas deu pra notar que ele estava acompanhado e que podia sorrir. Deu alguns passos para perto, mas por algum motivo não conseguiu ir adiante. Porquê? Porque ela parou um segundo e meio pra pelo menos pensar, o que nunca fora um hábito da Lavínia meio louca, e chegou a conclusão de que ele não fazia mais parte da vida dela, mas ao mesmo tempo notara, que na verdade a Lavínia meio louca é quem já não fazia parte. Não que ele não pertencesse à história dela, mas ele estava no passado e não precisava machucar novamente quem só dera o melhor por ela e fora abandonado.

Tomara um susto quando viu a presença de uma mulher, não compreendera como deu tempo de esquecer tudo, comentando “É, deu tempo. Eu que me perdi no tempo.”. E no círculo que se encontrara, notara que o tempo passara, mas algumas coisas não.

Agenor por algum motivo virou, e deu de encontro com aquele rosto que conhecera tão bem. Aqueles olhos que penetravam direto pela alma e passava pelo coração causando uma série de notas e batuques que ninguém mais conseguira. Pareceu ironia do destino, aquela pessoa que estivera com ele durante alguns anos e que desapareceu da mesma forma que as palavras voam com o vento estava ali, observando.

Ao notar o que estava por acontecer, Luna pegou a mão de Agenor e apertou. Ele olhou pra ela e simplesmente sentira-se acalmar, sendo guiado por ela, se retiraram do campo de vista da Lavínia que ficara furiosa com ela mesma. Percebera que não era uma pessoa saudável como as outras, porque amava e destruía aquilo que mais amava. E sofria por isso, era como um acorde de musica triste, que parece que vai entranhando todo o corpo, e não fica apenas no psicológico, ataca até as vísceras.

Ao voltar pra casa, encontrara-se com a Joice, e deixa transparecer sua tristeza. Ao conhecer toda a dor da Lavínia e a mudança que houvera durante os anos em que estreitaram a amizade, foi simples e direta ao dizer “Lavínia, a vida é muito mais que lembranças. Não tens que deixar a parte ruim das tuas escolhas serem mais importantes do que a poesia que você pode fazer das tuas próximas escolhas.”.

E foi nessa frase, simplória, mas digna de uma notória verdade, em que a Lavínia se apegou. Mas mantinha dentro do coração que as lembranças boas ninguém poderia retirar dela, nem da saudade nem da dor. E continuou, sorrindo quando possível, no intermédio em que as lembranças pregavam peças e voltassem pra dizer que alguma coisa faltava. Havia espaço dentro dela, saudade, e o pior, não havia tantas Lavínias. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

I'm miss your touch - Emily Browning

A vergonha

Indignada...