O pranto de Agenor

Agenor tomara a decisão de que era hora de ter orgulho próprio, ele havia de sair daquela vida. Finalmente tomara coragem suficiente pra romper todos os laços. E estava fazendo isso da forma que podia, e até já era capaz de sonhar.
Durante anos observara de alguma forma a Lavínia que sempre aparentara felicidade ao lado do Vinicius. E se mantivera vegetando durante anos, rastejando pela dor. Achava que nunca mais conseguiria ver-se livre de tamanha dor, não por vê-la feliz, isso era o que ainda o fazia sobreviver, mas por não ser ele quem estava ao lado e proporcionando todos aqueles sorrisos.
Ao ver todo o sofrimento do Agenor, aos poucos notando o rosto desfigurar-se de tanto chorar, a Luna não aguentou. Conhecia todos os passos dele, conhecia cada suspiro, e resolveu anteceder, e lutar pra que ele saísse daquela dor que parecia atravessar toda a alma. E assim, tentou fazer dos pesadelos dele um aprendizado.
- Tem horas que a gente se entrega, e não consegue submergir das profundidades do nosso próprio oceano. Sabia?
- O que? (Agenor perguntou ainda com o olhar perdido)
- Apenas disse que você está deixando a dor ser maior que você!
- Você não entende?! Eu amo aquela mulher, aquela cobra em forma de gente! A dor da alma não é como dor de cabeça que um analgésico pode curar! (muito exaltado, quase que gritando, e todos os músculos do rosto pareciam exaltar, e os olhos pareciam expressar uma dor profunda).
A Luna, notando tamanha exaltação, calou-se e continuou o que estava a fazer. E notando o silêncio, ele tornou a ela mais calmo.
- Desculpa, não queria falar assim, mas é que ... falar sobre isso anda me tirando do sério.
- Tudo bem, eu não tinha o direito de falar nada, por isso estou quieta.
Ele meio que em agonia respondeu:
- Não fala assim, você tem todo o direito. Conhece minha história melhor que ninguém. Mas você sabe, tem sido difícil pra mim. Já pensei em fazer tanta coisa, em tomar comprimidos e dormir pra nunca mais acordar, já pensei em me atirar do prédio mais alto da lapa, mas pensei melhor, era sofrimento demais pra quem me ama. Acho que você não iria conseguir olhar pra mim, frio, branco e deformado. Seria demasiadamente triste, porque eu teria meu fim, mas quem me ama ficaria com marcas indeléveis.
- Fico feliz que tenha desistido.
- Pois é, desisti. É por isso que digo, repito e bato o pé. Não estou deixando a dor me vencer.
- Então, vamos sair desse quarto, sei lá, vamos a um lugar que você está desacostumado.
- Não sei dizer se estou pronto pra isso.
- Bom, você não vai saber se não tentar. E tem mais, eu vou estar com você, porque ter medo?
- Não sei, vai que encontro com ela?!
- Se isso acontecer você segura a minha mão.
Foi aos poucos, aos montes, se deixando levar. Se permitindo esquecer e ser esquecido. Deixou velhas coisas pra trás, a raiva, o rancor, e todos os outros sentimentos pesados. Aprendeu com a Luna que havia sempre um lado bom após a dor, e agora, simplesmente deixara de ver tudo no preto e no branco. O mundo estava um tanto quanto colorido, e a cada dia, era possível diferenciar novas cores, como se tivessem um aroma.
Ele não tirara a Lavínia da vida, ele somente não sentia mais dor diante do não estar. Já não se deixava levar por toda aquela amargura de outrora. E a vida o fazia presenciar um novo sentimento, um recomeço. Como ele mesmo deixava claro, “Estou deixando que a vida me comande, e que essa continuação seja um novo inicio.”. Aos poucos ele se desintoxicava da Lavínia, de toda aquela confusão, e assim, despertava o interesse da irredutível moça.

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