The Change


Saíra da casa apoquentada de raiva, como se tivesse engolido milhões de tapas em palavras. Encostou na árvore em frente a casa do Murilo com os olhos fechados, e as palavras trocadas com ele pareciam rodeá-la. Sempre achara melhor fazer as coisas assim, respirar antes de sair falando tudo o que vinha a garganta sem primeiro ser pensado, assim limpava algumas das frases que por ventura viessem a sair. Achava estranho como isso não funcionava com o Murilo, algumas das principais características dela sumiam perante ele.

Diante da conversa que tiveram, palavras cruzando, formando redemoinhos de sentimentos, sentiu uma lágrima cair, sentindo o toque na pele, caindo lentamente, como se fluísse.

Murilo levantou, foi de encontro à porta, abriu a velha porta que de tão velha lançou o som no tempo. Lavínia, ainda desconexa, abre os olhos com o barulho, e dá de encontro com o olhar dele.

- “Po, po...” gaguejou, mas continuou ainda assim..., “posso?”

Ela se aproximou um pouco e desviou o olhar. Ele delicadamente passou o dedo limpando o trajeto da lágrima.

- Eu sei que pareço não me importar, sei que faço as situações parecerem anticlimáticas quando deveriam ser as mais perfeitas.

Lavínia permaneceu no silêncio, ouvindo palavra por palavra, e levantou o olhar. Dando pra Murilo perceber as cores, a tristeza que se passava por ela. Isso fora invisível enquanto ele deixou o medo acima de tudo, como se o medo o fizesse subjugar os sentimentos dela. O medo tirava dele a vontade de viver aquele amor.
É bom permanecer num lugar confortável pra o medo não ser feito realidade. Era melhor sentir medo do que vê-lo feito em realidade.

- Não é por ter medo que não sinto nada, eu ...

Parou um pouco ressentido no que ia falar, na duvida se deveria realmente dizer. Então, Lavínia o cortou.
- Não fala.

O custo, se posicionara, soltou um suspiro e continuou.
- Eu tenho que terminar, não é justo um sofrimento assim onde haveria de existir felicidade?! Eu te amo Lavínia, como nunca amei outra mulher em toda a minha vida.

Os olhos de Lavínia pareciam encher-se de lágrimas, no entanto, dessa vez não eram tristes, brotavam do coração que se atropelava entre batidas descontroladas a cada palavra do Murilo.

- Eu queria que tudo fosse diferente, estou disposto a me deixar levar. Não quero ficar sem saber se você vai voltar. É ruim demais.



O olhar dele se fez triste e demasiadamente sofrido. Sentia como se tivesse pulando num rio profundo, sendo arrastado, impotente diante do ir, do desaparecer e do não saber se haveria recidiva. Lavínia tocou o rosto dele cuidadosamente, e sem palavras, dançou passos pra dentro de casa, que foram seguidos por ele.
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