Medo de perder


Tantas dobraram nos caminhos que se encontravam com o dele. Mas nenhuma se fizera presente e ausente, necessária e desconexa. A Lavínia era pra ele uma parte extra, que não precisava, mas se fazia precisa e concisa.

Ainda conseguia sentir a pele macia nos dedos, ver os tons da pele oscilando entre branco e rosado a cada toque. Os cabelos ruivos que voavam em concordância com a melodia do vento. E a vontade de voltar no tempo. Esse pensamento o corroía, consumia o tempo. Tinha o trajeto de vida controlado até chegar a ela, era nesse ponto que tudo se esvaia.

Tentou por tantas vezes se prender a detalhes de outras mulheres, simplesmente falhara. Não era capaz de reparar, tão cego estava, e isso era a certeza desleixada que o fazia conduzir-se diante das incertezas da vida. Dessa forma permanecera andando, subjugando os sentimentos que o impingia. Fora sentando numa calçada e com um café nas mãos, aos goles, que tivera a atenção desviada da realidade, e sem controle algum, nas mãos a sensação de liberdade que só poderia sentir estando preso nos braços daquela que tanto amava sentira-se permear alma adentro. Sabendo dos momentos inoportunos e da destreza do destino, quase pudera sentir desde o começo, o momento da troca de olhares em que parece que a alma trinca. Foi assim que percebera tamanha obsessão que sentia por aquela mulher. O presente, o medo, o desespero e tudo o que ela era capaz de causar-lhe ao mesmo tempo, o passado, intercalado de tantos porquês e o futuro tão certo da deslealdade com as vontades que ele tinha no coração. Entre suspiros e lágrimas, como se fosse selado uma liberdade duvidosa, deixou um esforço escapar, se permitindo acreditar que isso jamais seria possível, não depois do ultimo encontro.

No resto do estilhaço da janela que via seu reflexo percebeu o tom abatido do olhar, e o aspecto confuso que transmitia. Foi o excesso de cuidado que o fez desconhecer o dividir, e o medo de fazer parte o fez fugir da realidade da Lavínia. Estava ocupado demais tentando encontrar motivos pra não perder que acabou perdendo-a. E agora, ele queria cuidar como não tivera chance por cortar-se daquela realidade tão distante. Tudo o que almejava era ter novamente os sentidos perdidos em Lavínia, a forma, a cor, cheiro e sabor. Queria sentir a pele aveludada de encontro à dele, queria a permanência mesmo que houvesse as mutações do destino. Queria ela, e era só isso que conseguia pensar. 

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