O inicio


Dois meses após conhecer a profundidade de estar ao lado dela, percebeu como a matéria se anhapa quando se descuida, dissolve, e parece se libertar quando se está diante de um olhar que parece arraigar na penumbra da alma.
Passara a noite vagando pelas ruas de São Bernado do Campo e pensando como se sentira terrível quando machucara o próprio coração pra não sofrer. Porém, fora mal interpretado. Só estava tentando cuidar daquilo que lhe era mais precioso. No entanto, a Lavínia lhe tirara por completo.
Tinha a mania de achar que sentimentos depois que saiam do plano (ganhavam dimensões) é porque era hora de pular fora, já que ninguém vai até o final, e simplesmente caem fora antes que algo realmente possa valer a pena. Mas nesse caso fora diferente, ele sabia que era a hora de ir realmente pra longe dos vestígios de sentimentos que o deixavam alucinado. Por não conseguir se explicar, ter motivos ou mesmo ser capaz de dizer pra ela o medo que tinha, decidiu apenas sair da vida dela como uma sombra desaparece após haver luz.
Os dias foram se amontoando, criando entrelaçados, cortes e criavam entrelinhas no destino. Enquanto o pensamento simplesmente tentava desvanecer, fora direcionado na sua rotina. Levantara, tomara a velha ducha, o café forte com uma torrada. Apressado, saiu, foi ao elevador olhando milimetricamente os detalhes, e desceu o dedo até o botão escolhido. Saiu do prédio e se dirigiu a parada de ônibus para poder chegar ao metrô. Ao entrar no metrô o seu olhar batera de frente com o de Lavínia.
Tentando manter-se calmo, o pensamento disparava flashes de perguntas, “o que ela está fazendo aqui?”, a mão suava em desespero, “há tantos lugares pra ir, e ela tem que estar justamente no mesmo lugar que eu?!”. Sem conseguir disfarçar mais, notou a aproximação dela, que lentamente ficou de frente a ele e perguntou:
- Sumiu ein?!
- Não sumi, só estava sem tempo. (falou quase que atropelando)
- Sei.
- Pois é. (riso congelado) E você, me fala por onde tem andado?
- Se quisesses saber teria conhecido todos os meus passos sem que eu tivesse que responder, mas como estavas ocupado demais, e eu sou um fardo, não preciso responder.
Sem que ele tivesse tempo de dizer nada, ela desceu do metrô. Sem ter reação alguma colocara os fones de ouvido e continuara o caminho.
Ao chegar do escritório, a ultima musica do celular tocou. E ao fim, percebeu que talvez não fosse o momento certo de se retirar da vida dela. O final de uma musica agora era seu limite, era como se ele estivesse sendo levado de volta ao quarto escuro pra que pudesse ser feito ampliações. Durante a ultima musica, seus ouvidos haviam se ajustado para aprender a ouvir os gestos de Lavínia em tom de ruídos, pareciam como uma onda de amplitude diferente, e isso estava destonando as notas que chegavam até os ouvidos dele. Na vida, o homem consegue capturar tudo através da musica, até a ausência. E fora assim que a ele havia sido capturado. 

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