Até o fim


Durante muito tempo todos os gostos que ele lembrava estavam ligados a Lavínia – o velho vinho de Paris que ela adorava tomar com ele nos encontros, o café amargo do outro dia e o chocolate quente nos dias frios que foram diminuindo até não haver mais nenhum.

As lágrimas eram sempre incessantes, ora pela manhã, ora a tarde quando entrava no metrô, ora de madrugada que conseguiam o arrastar da sala até o quarto, como se ele fosse arremessado pra cama, e de tão machucado o corpo, não conseguia se mover.

Depois que a Ávila tornara-se presente, conseguia esquecer por pequenos momentos que algo faltava, esquecia o que era uma lembrança doce e amarga. Os olhos ficaram menos inchados, os domingos menos solitários. O telefone não causava mais tanto alvoroço, tanto medo, assim como perguntas simples “como você está?” já não eram tão complexas de responder.

Planos foram tecidos, planos foram quebrados. Mas a vida foi objetiva e convidativa. Ela o amou até o ultimo dia de vida, e ele também a amava, e isso não mudaria. Iria sempre ter um dia o qual ele choraria, mesmo em colo terno em que as lágrimas seriam limpas uma a uma. E ainda iria doer, porque lembrança doce e amarga envolve o corpo, envolve alma.

- Só de lembrar que eu não vou ver mais ela sorrir, que eu não vou sorrir junto, ahh isso me dói tanto.

E fora assim, amando a Lavínia dia após dia, mesmo depois de uma vida inteira vivida,  morreu amando e adoecido da mesma mulher. Porque Lavínia, é essência pura do que não se esquece, é vida, é L.A.V.Í.N.I.A.  

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

I'm miss your touch - Emily Browning

A vergonha

Indignada...