Engrenagens


Criando paralelos entre a segurança, a liberdade e as algemas, terminando no pensamento.

Eu nunca tive medo de um final. Eu na verdade tinha medo do novo inicio. Do novo capítulo. Da adaptação. Sempre foi assim, desde o começo. E ainda que minhas palavras tivessem sintonia com as cores do recomeço, eu ainda assim, temia.  

Ostentava ideias absurdas do porque era tão bom não começar, e ficar sempre naquele quarto escondido que era minha alma. 
 
Num desses momentos em que tudo parece conspirar positivamente, a minha engrenagem de sentimentos resolveu parar. E eu fui até o problema. Era uma peça solta. Estava entre as engrenagens. Foi preciso lutar muito pra conseguir retirar aquilo que entranhava de tal forma que não era possível prosseguir  na minha estrada reta. Sem altos, sem baixos, sem coisa alguma. Porém as engrenagens já estavam gastas pela força da permanência. E tudo o que eu podia fazer era troca-las. E recomeçar. 

O recomeço foi indiferente ao meu medo. Eu não poderia permanecer parada entre o fogo cruzado entre a necessidade de continuar e de ir. O fato é que a velocidade, a facilidade e todas as outras características tinham mudado. Era necessária uma curva, uma decida pra acelerar, pra sacodir toda a minha estrutura emocional. Porque as constâncias das coisas já não supriam a força pra girar as engrenagens. 

Com medo, com sensação de que tudo poderia acabar num mesmo instante, eu ousei. Pela primeira vez deixei que as coisas tomassem um rumo mais atrevido, mais instigante. Menos concreto. Aliás, deixei as engrenagens livres. Não usei o freio. Apenas deixei que as coisas seguissem o rumo a qual eram destinadas. E as algemas fossem abertas. Quis chegar ao extremo. Deixei o quarto da minha alma na claridade. E recomecei a escrever. 

Escrevi um novo inicio. Sim, um recomeço no meio de uma história que tinha começado no meio de uma outra da qual eu já nem lembrava os detalhes.

Eu não sei porque é tão importante recomeçar, e nem sei porque temos essa necessidade, mas  a certeza que fica é que as coisas sempre findam, porque precisam chegar ao seu fim. E isso é inevitável. E não existe como voltar, depois que algo para a tua engrenagem, é preciso concerta-la, e só assim, continuar. E o mais confuso é que não importa o ponto que você parou, o inicio sempre vai contra todas as regras da continuidade, por isso, Newton estava errado quanto a inércia, mas o Einstein estava correto em sua teoria da relatividade

“Não sei o que foi que engoli desta vez pra causar tamanha indigestão. Talvez, as minhas próprias palavras.”

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