Carta de satisfação

Não vou te escrever. Não vou mais tentar dizer. Embora tantas coisas estejam entre nossos cortes paralelos. E, por assim ser, se você voltar a se encontrar em mim, não se satisfaça demoradamente. Porque quando menos esperar, você vai ver em meus olhos, diretos, as verdades que eu nunca ousaria dizer.

Nunca pense que mudarei de opinião. Não seria tão hipócrita. Aos poucos, nos enxergamos, mais profundamente. Mais eloquentemente. Um corpo esguio, autentico. Uma alma que cativa. Um olhar que destrói. Um sorriso que fascina. Um concepção de ideias retraídas.

Era nosso mundo diferente. Eu gostava de dividir, meus sorrisos, minhas palavras, meus medos com você. E dessa forma eu fui, aos poucos, aprendendo a conhecer os detalhes, explicando o que eu também não tinha noção da profundidade. A desvendar os retalhos enigmáticos. Mas um tanto quanto alucinada, minha vida se revoltou. Eu me deixei ir. E as coisas tomaram um rumo, que ainda assim, nenhum filme seria capaz de contar, porque o receio do certo e errado não permitia que o enredo tomasse forma. Era censura rigorosa.

Não sei bem ao certo em que ponto eu me figurei tão discrepante do meu ser. Eu não poderia compreender, aceitar.

Eu não tenho a humildade de assumir que poderia estar falando de algo que eu não tenho controle. Poderia estar falando de um nós, poderia sim. Mas não sei falar mais sobre você. Então, falo de mim, dos outros, daquele indigente que jamais vai voltar a luz, eu falo de ninguém. Eu falo dos fatos que exponho na tua frente, e que você não é capaz de ver, simplesmente porque não é capaz de entender a si próprio. 


As verdades que eu nunca vou ousar dizer, por imaginar que alguém com tanto sofrimento marcado na pele, com uma alma tão antiga, saiba diferenciar o verdadeiros do falso, as intensões, os sentimentos, as pessoas. 


Eu.

Eu, não fui capaz de entender você, nem você a mim. Seres de profundidades devastadoras, que não ficavam mais abalados com a bipolaridade do tempo. Não tinha como compreender toda a aproximação pra logo em seguida, a intensão mudar, e não haver o envolver ser maior. Então, queria pedir desculpas pelas palavras que eu não sou capaz de escrever, pelo incomodar que te causo, por continuar a acreditar no que não será verdade.

Espero que fiques bem, e não te satisfaças mais tão demoradamente. Não de mim.