Sem musica


Mais uma vez a esperar, numa dessas tardes que o sol insiste em se esconder, os sustenidos com quinta que nunca se encaixam. Então, eu continuo a procurar, até que um ou dois soem suficientemente belos, mas a escala ainda assim não fica completa. E eu espero. Espero. Espero.

Por hoje, não haverá uma nova canção.

Parece-me que a musica não alcança, não chega perto, não se faz ser sentida como um abraço.  Enquanto minha voz quer ir junto, o desencontro é inevitável. E no silêncio, tanta coisa é dita, e tantas outras escondidas. Existe num olhar cada vez mais perdido, uma voz cada vez mais baixa, um sorriso que aos poucos não aparece. Já não me apetece o brilho de outrora.  

Por hoje, não haverá uma nova canção.

É que eu me desencontrei de mim quando a musica fugiu pra longe, e foi assim, que começou a doer tanto. Sabe o que é pior de tudo isso, é que eu me sinto morta por dentro. Porque dói profundamente. As notas não saem como antes. O som não é mais o mesmo. A vontade de cantar está cada vez menor. E não há o que se fazer.

Por hoje, não haverá uma nova canção.

Não estou desistindo. Desistência não faz parte do meu vocabulário. Estou perdendo vontade. E musica é assim, algo que vem da alma, se a alma não vai bem, as palavras são perdidas. É assim que minha alma está a existir, apenas vegetando.  

“Dias tristes, vontade de fazer nada, só dormir. Dormir porque o mundo dos sonhos é melhor.

Pode ser apenas tristeza, claro que pode. Eu sei que sim. Nem é um caso de suspeita, é uma certeza. Porque a musica é feliz até quando parece triste. E se você está triste, a musica morre junto com a alegria.

Já fiz todo o tipo de pergunta, já senti tudo o que havia de ser sentido, mas eu queria muito mais, porém, isso não era possível. Então, minha alma sufocada de tamanha resistência, deixou que a musica morresse dentro de mim. E foi a partir desse dia que mais ninguém me ouviu cantar. Porque eu morri.

Por hoje, não haverá uma nova canção.


“No fundo eu sei que a realidade que eu sonhava afundou num copo de cachaça e virou utopia.

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