Sem palavras ou expressões

A ponta dos meus pés virou pra o lado da rua, e foram caminhando direção contrária a sua. Por descuido teu, me permitiu sair assim. Sem muitas palavras. Sem nenhum adeus. 

Fui agarrando aos poucos em nada, desesperadamente com as unhas que cravavam o vazio. Por não haver escolha a fazer. Por ter que suportar a ida sem olhar pra trás outra vez. Porque eu não podia chorar. 

Logo eu que nunca tivera nas fibras dos músculos a força suficiente pra suportar o mundo, agora tinha que aprender, pra não querer voltar, não tentar, não fraquejar diante da minha vontade incessante de querer pedir pra não me deixares ir. 

Não havia nada que explicasse aquela situação na qual tínhamos nos metido, simplesmente não era possível de entender. Compreendo que sou inconsistente ao ponto de te amar e segundos depois dizer que não sinto mais nada. É simples, meu coração está amargurado de tanto tentar e sempre sair machucado. Não foi diferente dessa vez. 

Eu me apeguei a minha decisão. É assim que consigo continuar. É por isso que eu não voltei depois de andar tanto, e em todos os círculos que me perdi. A ponta dos meus pés continua pra o lado da rua, eu continuo caminhando contra a direção que você escolheu. Por cuidado meu, por me permitir ter forças. Sem nenhuma palavra. Sem mais nenhum olá.

“But don't you remember?

Don't you remember?

The reason you loved me before,

Baby, please remember me once more”

O que eu vou fazer agora que já me deixei chorar? Mostrando minha dor, mostrando minha face lavada. Eu só tenho força pra ir até onde as minhas pernas tiverem firmes, e não vou voltar. Mas queria que soubesse que vou sentir tanta falta. Ainda não me acostumei nessa direção porque o sol pega meus olhos de frente, e eu fico por horas sem ver um palmo adiante. E ainda assim eu continuo caminhando na direção contrária a tua. Por cuidado. Por querer ir. Por não sentir necessidade de ficar mais aqui. Sem nenhuma palavra ou expressão. Sem mais nenhum cumprimento.