Parte II: Ela perdida na obscuridade que ele deixou absorver por amor



Eu fiquei cansada de esperar, com um olhar afiado e penetrante. E de muitas maneiras ele ainda era tão misterioso quanto tinha sido quando o vi pela primeira vez.
Enquanto olhava para aquilo senti meu estômago apertar de medo e as mãos ficarem frias, acrescentando um olhar incrédulo. Como eu poderia estar arrependida, quando você está aqui? Aquele que se perdia pela distancia e proximidade estarrecedora  estava encarando-me novamente com seu brilhante olho verde, quase que humano. Aquele olho… Onde eu tinha visto um olho como aquele antes? Olhos verdes escuros e queimando.
O meu coração contraiu e senti como tivesse mergulhado, sem aviso, em meu pesadelo mais apavorante. Não estava somente escuro como absolutamente silencioso; não havia nada para se ver e nada para se ouvir, e eu estava caindo… no mais absurdo entorpecimento.Era como se ele de repente estivesse há mil e seiscentos quilômetros, e meus olhos completando o espaço… havia tanta dor em seus olhos que eu mal podia suportar; essa tristeza terrível dentro dele que eu não consigo alcançar, e está nos separando. Eu não sei o que fazer.
O ar tinha uma sensação carregada e elétrica, e as trovoadas roxas mal-humoradas davam ao céu uma cara atemorizante. Sua voz estava como eu lembrava silenciosa, irônica e divertida. E seus olhos prenderam-me segurando, como se nunca mais fosse me soltar. Parte de mim estava simplesmente dormente com o horror e ainda assim queria permanecer estática ali, naqueles mil e seiscentos quilômetros de distancia.
Tem horas que tudo é maravilhoso, e então tem outras horas que…nada explica, mas sempre há uma dor cortante,  segurando-se por dentro, que não faz som algum, então é como se suas mentes estivessem se mesclando, mas tudo o que é dito não é exatamente  preciso, mas o suficiente pra voltar ao silêncio. 
Um relampejo de luz iluminou o céu enquanto a imagem no canto virava-se, eu me virei encarando. E então foi como se cada mau presságio e medo e pesadelo que já houvesse acontecido, estivesse se tornando realidade de uma só vez. Não adiantava gritar; nada adiantava. Minha mente se recusava a achar sentido no que meus olhos estavam vendo. Mas eu não podia evitar ver isso. Mesmo se pudesse ter fechado os olhos, cada detalhe da cena estava entalhado na memória. Como se o relampejo de luz tivesse cauterizado isso em meu cérebro para sempre. Meu corpo estava cheio de uma tensão insuportável, seu coração estava explodindo, sua cabeça vacilando. Os gritos estavam tentando cortar seu caminho para fora da minha garganta, enlouquecidos. Mas o impacto terrível e estilhaçador nunca chegaram a causar tanto estrago quanto a voz falando “eu sou a outra metade, que você sempre sentiu falta e que recusa aceitar”. E me segurou imóvel, dentro do círculo dos braços, tentando ajustar meu senso de direção. Tentando me fazer acreditar em mais outra coisa inacreditável.
Havia tido muito que temer até então, foram golpes demais naquela noite. Eu não podia mais reagir. Só podia encará-lo com algum tipo de assombro e deixar meu corpo parado, cabeça levemente encostada naquele ombro que me acalmava e me deixava tão aflita.
Havia tanta tristeza em seus olhos mesmo depois de não restar nada de ruim. Aqueles olhos que tinha queimado como gelo verde estava agora escuro e vazio, sem esperança. Aquele mesmo olhar que eu havia visto naquela primeira noite, só que agora estava pior, me tocando a pele, e mesmo assim distante. Pois agora havia autodepreciação misturada com arrependimento, e condenação amarga. E eu não conseguia suportar isso, nunca poderia aceitar, então, sussurrei, sentindo aquela tristeza entrar em minha própria alma, “não importa quantos passos eu esteja distante, nem quantos medos possam me quebrar, eu não consigo não reagir a você, porque é muito mais do que posso suportar!”.
O silêncio que se seguiu foi absoluto, como o silêncio depois do fim do mundo.

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