Me deixa ... eu quero entrar!

-“Você sabe o que eu penso sobre você!”  (…)
-… não, não sei. Me diz? O nosso mundo existe ou eu o criei sozinho?
- Você realmente acredita que eu sou tão pouco assim? Deixa as coisas seguirem. Eu não preciso virar poema. Diz só pra mim.
- Sabe, tem um pedaço dentro de mim que está todo machucado, sangrando, doendo. Você simplesmente veio, arrancou, levou. E eu agora só escondo a dor. Mostro pra você, vem cá… viu como está feio? E você? Você foi embora e nem queria ir. Eu te sentia aqui comigo, mas o eu que vive aqui dentro de mim sabia que não estava mais e me contou…  e está doendo tanto… e eu não gosto de pedir… é que está tudo quente, tudo fincando, tudo tão maior e menos claro. Estou com medo de que meu coração vire pedra, não deixa?
-  Prometo que não deixo.
-  Eu não quero mais isso de "advinhar", tudo fica muito misturado com as culpas e o escuro.
- Porque todo esse medo? Eu estou aí? Faço parte (ainda)?
- Sempre.
- Mesmo se ... ah não sei, sair um monte de borboletas pela minha boca? ou se o diabo não encher direito nossa taça? mesmo depois que eu te disse que, apesar de muitas pessoas e turmas, poucos eu deixo entrar e que você eu deixei e que você é como se fosse uma parte de mim? eu te assustei?
- Me assustou um pouco, mas nem foi tanto isso que me assustou, acho que me assustei bem mais comigo mesma.
- Eu te entendo. 
- Posso descansar um pouco? promete que o mundo não para?
- Não prometo que o tempo não pare, mas prometo que estarei aqui, sempre!
- E se eu tiver outro sonho ruim (realidade como sonho)?
- Não vai ter!
- Como você tem tanta certeza?
- Eu não tenho, mas se você tiver medo, é só me chamar que estarei aqui do seu lado. 
- Se eu não gritar, você me ouve?
- Não precisa gritar, eu estou ouvindo seu coração. Eu conheço todas as batidas dele. Confia em mim?
- Eu confio. É que tem dias que tudo se esconde e eu sei que as coisas andam e são vivas… e eu fechei os olhos, tateei, agucei sentidos, esperei, depois busquei e procurei e continuei e me segurei… só que tudo sumiu… daí, eu senti um baque maior… e acho perdi tudo e sei que não me perdi… é que está tão difícil… e, dessa vez, eu não consegui encontrar sozinha… e eu não sinto nada aqui perto, tem tanto barulho, eu estou cansada, assustada e minhas mãos tremem e tem um vazio… e… me diz que não estou louca por continuar andando e por não sair e por não abandonar tudo e por não me afastar e por acreditar que o lugar é diferente mas que tudo [ainda] existe… me ajuda … me diz?
- Eu sei das portas e cadeados e caduques e da ausência e do medo e da descrença e das muitas pessoas e das distrações e da reclusão … eu estou aqui e eu quero… me deixa cuidar de ti?

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